Mais de 100 toneladas de açúcar vão alimentar abelhas sobreviventes dos fogos

No Algarve, o INCF vai desenvolver um projector experimental nas matas do Estado para reordenar a floresta. A apicultura, defende o plano, pode ser uma forma de prevenir os incêndios.

Foto
Portugal tem cerca de dez mil apicultores registados Filipe Farinha/Stills

O Ministério da Agricultura vai distribuir 102 toneladas de açúcar para alimentar as abelhas que sobreviveram aos incêndios. Desta forma, o Governo pretende ajudar os apicultores a retomar uma actividade que está a passar por sérias dificuldades. O anúncio foi feito, nesta terça-feira, pelo secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, no decorrer do 10.º Encontro de Apicultura do Algarve, uma região que tem esta particularidade: produz mel amargo, extraído da flor do medronheiro.

Miguel Freitas, interveio, via Skype, na abertura do encontro para apresentar o esboço do plano que está a ser desenvolvido para minimizar os impactos negativos dos fogos no interior do país, com perda de vidas e bens. Em representação da Federação Nacional dos Apicultores Portugueses (FNAP), João Casaca, denunciou a “grave situação” em que se encontram os produtores nas zonas dizimadas pelas chamas. As bases de distribuição de açucar vão ficar localizadas em Mangualde, Castelo Branco e Mirandela.

Sobre as medidas preventivas a tomar, no futuro, para reduzir o número de incêndios, João Casaca advertiu: “Cuidado com a limpeza radical dos matos”. Essa medida, sublinhou, além de colocar em causa a biodiversidade necessária para manter o equilíbrio do espaço rural, “cria sérios problemas à sustentabilidade” da apicultura. Os últimos anos de produção de mel, acrescentou, “têm oscilado entre o mau e muito mau”. Do conjunto de novas medidas previstas para revitalizar o mundo rural, Miguel Freitas anunciou, “para breve”, a criação do estatuto do “jovem empresário rural”, com objectivo de levar para o interior do país empreendedores que possam “desenvolver projectos de forma integrada”, tendo em conta as condições naturais de cada região. Segundo as estatísticas do INE (2016), Portugal produz mais de 20 mil toneladas de mel.

O representante regional do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), António Miranda, por seu lado, adiantou neste encontro que está concluído e Plano Regional de Ordenamento da Floresta (PROF) do Algarve. Segue-se a discussão pública, para a qual apelou à participação. “Espero que os apicultores participem, defendendo os seus interesses”. Uma das propostas, defendeu, é o aumento das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), por forma a ordenar a floresta. Para já, o ICNF pretende avançar com um projecto experimental nas matas nacionais da região – Terras da Ordem (Castro Marim) e Herdade da Parra, Silves. Nessas propriedades, os serviços oficiais vão plantar rosmaninho e outras plantas da flora autóctone, de forma a aumentar e diversificar as fontes de alimentação para as abelhas e reordenar o espaço vegetal. Mais cedo ou mais tarde, lembrou António Miranda, os incêndios reaparecem.

De acordo com os dados da Direcção-Geral de Alimentação de Veterinária (DGAV), dos cerca de dez mil apicultores registados em Portugal, o Algarve conta apenas com 744. “Mas é aqui que se situam os apiários de maior dimensão”, sublinhou o director regional de agricultura, Fernando Severino, estimando que este sector represente 15 milhões de euros na região, num bolo nacional variável entre os 50 e os 70 milhões. A maior percentagem de apicultores (34%), disse, pertence à Região Norte. Porém, trata-se de um sector pouco profissionalizado. Apenas 10% dos apicultores possuem mais de 150 colmeias. As pequenas explorações familiares, como as que foram atingidas pelos incêndios, são as que predominam nesta actividade, que surge como forma de complemento a outras produções agrícolas.

No que diz respeito à produção de mel biológico, existem 195 produtores no país e, destes, o Algarve tem apenas dois. O veterinário António Madeira, da direcção regional de agricultura, justificou a fraca adesão dos apicultores da região a este método “com a mobilidade, imposta pelas condições da região”. Os apicultores, explicou, fazem a transumância - acompanham o ciclo da floração. Por isso, disse, os produtores são obrigados a transportar as colmeias de um lado para o outro, em busca de alimento. “Nessas condições, socorrem-se dos produtos convencionais para combater as doenças, o que não é compatível com a produção biológica”. O mel da flor da laranjeira foi extraído no Verão, mas dentro de pouco tempo haverá mel que não é doce. “O mel da flor de medronho é amargo, é aplicado a nível farmacológico e conta com alguns apreciadores”.

Sugerir correcção
Comentar