Novo vazio de poder no Líbano com Israel à espreita

“O que liga a surpreendente demissão de Hariri e a ameaça de assassínio do Hezbollah com a Arábia Saudita e Israel?”, pergunta Daniel B. Shapiro.

Foto
Saad Hariri DALATI NOHRA/EPA

A demissão de Saad Hariri da chefia do Governo libanês, um ano apenas depois de ter aceitado liderar uma frágil coligação promovida pelo Presidente Michel Aoun, um cristão aliado do Hezbollah, acaba de precipitar o Líbano numa nova crise que ninguém aposta quanto tempo vai durar.

“Estamos a viver num clima semelhante à atmosfera que prevalecia antes do assassínio do mártir Rafiq Hariri. Tenho sentido que há conspirações contra a minha vida”, afirmou Hariri numa demissão anunciada em Riad e em directo numa televisão saudita. Rafiq, pai de Saad, morreu num atentado em 2005, em Beirute.

O Líbano tem uma longa história de dinastias políticas com fins trágicos – Bashir Gemayel, membro do Partido Falange e comandante de uma milícia nos primeiros anos da guerra civil (1975-90), foi eleito Presidente em Agosto de 1982, quando o país se encontrava sob ocupação síria e israelita, e assassinado em Setembro do mesmo ano. A sua filha mais velha já tinha morrido num ataque que o teria a si como alvo; o mais novo, que nasceu poucos meses antes da morte do pai, Nadim, foi eleito deputado em 2009.

Que Hariri tema pela sua vida ninguém duvida – aliás, difícil foi perceber porque aceitou de novo o cargo de primeiro-ministro, depois de um primeiro mandato (2009-2011) marcado pelo julgamento dos assassinos do pai (supostamente membros do Hezbollah), ameaças de ministros ligados ao movimento xiita de fazer cair o seu Governo e a pressão de Bashar al-Assad na Síria. Mas na verdade, a sua demissão parece mais parte de um plano da Arábia Saudita, de quem ele depende totalmente, do que exactamente de uma decisão pessoal.

“O que liga a surpreendente demissão de Hariri e a ameaça de assassínio do Hezbollah com a Arábia Saudita e Israel?”, pergunta nas páginas do jornal israelita Ha’aretz Daniel B. Shapiro, ex-embaixador dos EUA em Telavive e investigador do Instituto de Estudos de Segurança Nacional baseado na mesma cidade. “Tem tudo a ver com o Irão. Mas Israel não pode ser manipulado pela impaciência de Riad para entrar num confronto prematuro”, defende.

Não é segredo que Israel realiza exercícios militares na frente Norte há já vários meses, recorda no site da Al-Jazira Jamal Elshayyal. “Enquanto o Hezbollah tem estado ocupado a defender o regime de Assad, em Damasco, Telavive tem desenvolvido os seus sistemas de defesa antimíssil. Mais cedo ou mais tarde, vai querer testá-los num cenário real”, antecipa.

Já se tinham percebido que as relações entre Israel e a Arábia Saudita estão provavelmente na melhor fase de sempre – o todo-poderoso e hiperactivo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, propõe-se a promover uma iniciativa de paz entre palestinianos e israelitas. Por outro lado, Gaza está tranquila, do ponto de vista israelita, com o Hamas a entregar o controlo da Faixa à Autoridade Palestiniana.

“Os líderes israelitas preparam a nova guerra com o Líbano desde 2006 [data da última]”, escreve Shapiro. “Mas Israel tem de tomar a sua própria decisão sobre o momento certo para esse combate.”

Sugerir correcção
Ler 4 comentários