Juncker: "Portugal deve ter um papel central na Europa"

Em entrevista à RTP, o presidente da Comissão Europeia elogiou o desempenho económico de Portugal e considerou o nacionalismo a maior ameaça ao projecto europeu.

Jean-Claude Juncker na RTP: a entrevista na íntegra RTP

O presidente da Comissão Europeia admitiu ser “um forte partidário do aumento do papel de Portugal no seio da União Europeia” e elogiou o comportamento e sacrifícios dos portugueses, que são algo que considera não ter sido “devidamente reconhecido por outros europeus”.

Em entrevista à RTP, Jean-Claude Juncker abordou a situação económica de Portugal, defendendo que o país “segue um bom rumo” e realçando que o desempenho luso em relação ao défice “é dos mais impressionantes” em toda a Europa. “Vejo Portugal, a sua economia e a sua indústria e tudo o que o compõe, como algo que deve ter um lugar central na Europa”, referiu Juncker, garantindo que a União Europeia sempre fez o que “urgia ser feito” no país, mesmo durante o período da troika. “Sempre tive um discurso de respeito pelos portugueses e pelo desempenho económico de Portugal”, disse ainda.

Sobre os incêndios que fizeram 45 mortos, no dia 15 de Outubro, o presidente da Comissão Europeia explicou que foi accionado o mecanismo de solidariedade europeu para Portugal, mas apontou erros à Europa: “Os incêndios deflagraram num domingo e o primeiro avião europeu chegou na quarta-feira. Não é esta a Europa com que eu sonho”. Juncker admitiu ainda que a tragédia no país o sensibilizou de forma especial, isto porque um habitante da sua aldeia, no Luxemburgo, foi uma das vítimas mortais resultantes dos fogos.

Sobre a Catalunha, o luxemburguês diz que a “Europa não tem um papel a desempenhar no conflito”, pois, diz, a União Europeia não está “perante um problema de direitos humanos”. Porém, “o referendo [à independência da Catalunha] não teve uma participação que permita saber qual é a vontade do povo catalão”. “Os catalães não estão a ser oprimidos por Espanha”, lembra.

“Mas oiço os catalães tal como ouvi os escoceses”, garante.

Questionado sobre qual é, actualmente, a principal ameaça ao projecto europeu, Juncker não tem dúvidas: “Os nacionalismos”, que são algo que considera um “veneno”.

“A Europa é o continente mais exíguo. No que toca ao peso económico, a Europa está em queda. Em termos demográficos, já não representamos o que a Europa representava no início do século XX”, elenca, acrescentando que se a União Europeia “não se opuser a estes elementos”, tornando-se “numa Europa virada para si” e “dividida”, perderá “influência no mundo”. “A Europa deixaria de ter peso”, atira.

Em relação a outros dos problemas que parecem ameaçar a estabilidade europeia, Juncker foi mais evasivo. À pergunta sobre em quem tem mais confiança – se em Donald Trump ou em Vladimir Putin – o líder europeu respondeu que é em si próprio. “Temos problemas pequenos e grandes com os dois. Falo com ambos”, clarificou.

Juncker disse ainda que gostaria que o Governo britânico explicasse melhor, aos próprios cidadãos, as consequências para o Reino Unido da saída da União Europeia: “Nunca houve no Reino Unido um verdadeiro debate sobre o que implicaria uma saída da União Europeia”, afirmou, acrescentando que “quando um Estado abandona a União Europeia não é um problema de gestão, é uma tragédia”. 

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