Cinco polícias britânicos notificados por conduta indevida em morte de português

A família do português, residente no Reino Unido desde 1996, alega que o jovem foi vítima de violência dos agentes que tentaram prender em 15 de Junho, durante uma operação policial.

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Reuters/CRAIG BROUGH/Arquivo

Cinco agentes da polícia britânica poderão ser acusados de conduta indevida durante a operação que resultou na morte do jovem português Edir Frederico da Costa em Londres, informou nesta terça-feira a Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC).

Conhecido pelos próximos como Edson, o jovem de 25 anos morreu a 21 de Junho no hospital de Newham, depois de vários dias internado. A família do português, residente no Reino Unido desde 1996, alega que o jovem foi vítima de violência dos agentes que tentaram prender em 15 de Junho, durante uma operação policial.

Seguindo os procedimentos neste tipo de casos em que há consequências e suspeitas graves sobre a intervenção da polícia, a IPCC abriu na altura um inquérito ao caso e hoje anunciou que vai notificar formalmente cinco agentes da Polícia Metropolitana [Metropolitan Police Service]. Em causa está uma potencial conduta indevida ao nível da assistência dada a Edson Costa durante a imobilização e depois que ele ter ficado indisposto.

"A IPCC agora está a investigar essa potencial conduta indevida — no entanto, a notificação de negligência dos agentes não indica culpa, nem significa que se siga um processo por conduta indevida", frisa o comunicado.

Uma acusação de conduta indevida, dependendo se o agente é responsável por negligência dos seus deveres ou por ter cometido uma irregularidade de forma intencional, pode resultar em processo disciplinar ou num processo-crime.

Tom Milsom, comissário adjunto da IPCC, disse estar consciente da inquietação causada pelas circunstâncias da morte de Edson Costa. "Além de fornecer actualizações regulares à família e de comunicar com os agentes envolvidos, quando for apropriado informaremos a comunidade em geral sobre o progresso da nossa investigação independente", prometeu.

Desde a abertura da investigação, adiantou, foram recolhidas declarações de testemunhas chave, incluindo agentes policiais, pessoal médico e civis, assim como vídeos, incluindo as imagens de vídeo capturadas pelas câmaras de corpo durante os primeiros socorros administrados ao português. Porém, referiu que o médico legista ainda não foi apurou a causa da morte nem revelou os resultados da análise ao conteúdo de várias cápsulas retiradas da garganta do português.

Numa primeira fase, a IPCC Indicou que a autópsia preliminar não tinha encontrado fracturas no pescoço, lesões na coluna ou hemorragia cerebral que indicassem o uso de força excessiva. Mas vários elementos da família denunciaram suspeita de violência policial devido ao estado em que o jovem foi internado no hospital e testemunhos dos dois amigos que acompanhavam Edson na noite de 15 de Junho.

Ginário da Costa contou à agência Lusa que o filho foi pulverizado a curta distância na cara com gás lacrimogéneo CS pelos agentes e depois imobilizado no chão por dois polícias durante vários minutos. Só quando se aperceberem de que o português estava inconsciente é que chamaram os serviços de emergência. No hospital, o inchaço visível nos olhos e no pescoço alimentaram a suspeição de que Edson teria sido alvo de excesso de violência, disse o pai.

A 25 de Junho, uma manifestação contra o incidente resultou em confrontos com a polícia e distúrbios na zona de Forest Gate, com o atear de fogo a caixotes de lixo e arremesso de pedras, causando ferimentos em 14 polícias e cinco detenções.

A família do jovem português lançou uma campanha que pretende fazer um apelo ao mayor de Londres, Sadiq Khan, para suspender os agentes envolvidos e ajudar no esclarecimento das circunstâncias da morte.