A governadora de Tóquio dá um tiro no pé ao não concorrer contra Shinzo Abe

As eleições de 22 de Outubro serão menos disputadas do que se previa porque Koike, líder do recém-criado Partido da Esperança, não se candidata ao Parlamento.

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A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, num comício junto a uma estação de comboio Issei Kato/Reuters

No arranque da campanha para as eleições antecipadas no Japão esta terça-feira, é na economia que se centra a atenção dos líderes políticos. O primeiro-ministro Shinzo Abe pediu aos eleitores mais tempo para trabalhar na sua recuperação e a sua rival Yuriko Koike prometeu travar a planeada subida do IVA.

Mas é provável que as eleições de 22 de Outubro sejam menos disputadas do que se esperava – ou temia – porque Koike, a governadora populista de Tóquio, decidiu não se candidatar ao Parlamento, o que na prática a retira da corrida ao cargo de primeiro-ministro.

Koike, que foi ministra da Defesa do Governo de Abe, fundou no mês passado um novo partido, o Partido da Esperança, para competir com o Partido Liberal Democrático (LDP) do primeiro-ministro, embora as diferenças ideológicas entre as duas formações sejam escassas.

“O trabalho de um político é dar esperanças e sonhos às pessoas. Vamos restaurar a confiança dos eleitores nos políticos”, disse Koike, pedindo aos eleitores que ajudem o seu partido a acabar com a “política dominada por Abe”.

Mesmo após o início da campanha, alguns analistas previam que Koike ainda se incluiria na lista de candidatos a deputado antes das 17h00 locais, prazo-limite para as candidaturas. Mas ela não o fez. A decisão deixou o recém-nascido Partido da Esperança sem um óbvio candidato a primeiro-ministro.

Uma sondagem publicada no sábado pelo jornal conservador Yomiuri Shimbun revela que o apoio ao Partido da Esperança de Koike desceu seis pontos desde a semana passada: está agora com 13%. Por outro lado, o LDP de Abe recuou apenas dois pontos percentuais, tem 32%.

Com a decisão de Koike de não ser cabeça-de-lista do Partido da Esperança, este “parece cada vez menos uma força política emergente e cada vez mais um veículo para a vendetta pessoal de Koike contra Abe”, diz Tobias Harris, analista da consultora Teneo Intelligence.

Abe, por seu lado, começou a campanha em Fukushima, a prefeitura do desastre nuclear de 2011, onde disse não estar interessado em “modas ou slogans políticos”.

“Nestas eleições, iremos promover as nossas políticas de forma honesta e sincera”, afirmou, prometendo avançar com o previsto aumento do IVA de 8% para 10% e asseverando que esse dinheiro será usado em cuidados infantis e educação.

Abe, no poder há quase cinco anos, dissolveu o Parlamento no mês passado e convocou eleições antecipadas, 14 meses antes do previsto, para poder capitalizar uma subida nas sondagens. O primeiro-ministro conservador tinha visto os seus números caírem no início de Verão devido a acusações de corrupção, mas a crise do lançamento de mísseis e pelo teste nuclear de 3 de Setembro da Coreia do Norte ajudou a restabelecer a popularidade de Abe, defensor de uma “linha dura”.

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À espera de Shinzo Abe em Fukushima, com produtos agrícolas da região afectada pela radiação da central nuclear KIMIMASA MAYAMA/EPA

O primeiro-ministro disse querer um novo mandato para “apertar” com a Coreia do Norte: “Estas eleições vão determinar a maneira como iremos lidar com esta ameaça. Temos de continuar a fazer pressão”, declarou em Fukushima.

Mas alguns analistas acreditam que o seu verdadeiro objectivo é usar um novo mandato para alcançar o seu maior desejo político: rever a constituição, ditada pelos americanos no pós-guerra, para que o Japão possa ter um exército normal.

Embora o Partido da Esperança não tivesse hipóteses de assumir o controlo do Parlamento, parecia estar no bom caminho para impedir que Abe obtivesse uma maioria de dois terços, necessária para avançar com uma reforma constitucional.

O factor decisivo agora é a abstenção, escreve Harris. Em 2012 e 2014, a abstenção-recorde ajudou a que Abe conseguisse vitórias esmagadoras, pelo que Koike e o resto da oposição, se quiserem frustrar as intenções de Abe, precisam de motivar os eleitores.

Exclusivo PÚBLICO/Washington Post

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