Roupas eram doadas para África, mas IPSS vendia-as em feiras

Em armazém havia mais de quatro milhões de euros em artigos de vestuário, agora apreendidos. A GNR já tinha identificado em Setembro um esquema idêntico que envolvia uma instituição da Lourinhã.

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NFACTOS/Fernando Veludo

A Salsa e a Tiffosi doaram a uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) mais 96 mil artigos para que fossem entregues para fins humanitários na Guiné-Bissau. Artigos que esta instituição de Santa Maria da Feira em vez de doar, vendia em feiras no concelho de Mafra. A GNR interceptou o esquema e apreendeu 4,25 milhões de euros em artigos de vestuário.

A apreensão aconteceu na passada quarta-feira e a instituição, que a GNR não identifica, está agora indiciada da prática dos crimes de burla qualificada e fraude fiscal. Os artigos foram, entretanto, entregues às marcas, adiantou o comandante do destacamento da GNR de Mafra, Emanuel Massa.

“Não foram feitas detenções porque a responsável da instituição não estava no local aquando da apreensão”, acrescentou.

As buscas ocorridas na semana passada surgem no seguimento de uma outra investigação que levou o Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Mafra a fazer, no início do mês de Setembro, buscas a armazéns em Mafra e em Torres Vedras pertencentes a uma outra instituição de solidariedade social, esclareceu o comandante.

Nessas buscas, a 4 de Setembro, foram apreendidos mais de 200 mil euros em vestuário doados pela Salsa a uma IPSS com sede na Lourinhã, a Fundação João XXIII — Casa do Oeste. Em consequência, segundo a GNR, foram constituídos dois arguidos: uma mulher de 33 anos que vendia as roupas e um homem de 79 anos, o padre que gere a instituição.

Ao PÚBLICO, o padre Joaquim Batalha confirmou que foi constituído arguido e recusa a prática dos crimes de burla qualificada e fraude fiscal de que é acusado. "A GNR esteve aqui e não viu nada. O que estão a fazer é uma farsa e uma calúnia a esta instituição", referiu. Já no início de Setembro o pároco tinha dito ao Jornal de Notícias que tudo o que a instituição recebia era "enviado em contentores para a Guiné".

"Agora, a associação em questão [à qual foram apreendidos os artigos na semana passada], é diferente mas o delito é comum: ambas as IPSS vendiam roupas doadas por marcas de renome", sublinhou o comandante da GNR.

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