Portugal junta Simone e Zélia Duncan em palco nos dez anos de Amigo é Casa

“Duas pessoas com vozes fortes, duas mulheres, sem competir, só somando”: é assim que Simone e Zélia Duncan se vêem em palco. Dez anos depois de nascer Amigo é Casa, cantam de novo juntas em Portugal.

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Simone e Zélia Duncan na apresentação de Amigo é Casa em Lisboa, no Campo Pequeno, em Março de 2009 Laura Haanpaa
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Simone e Zélia Duncan juntas, numa fotografia promocional recente Patrícia Albuquerque

Juntaram-se em palco por uma sucessão de acasos, e isso resultou num espectáculo intitulado Amigo é Casa, que Portugal viu em Março de 2009 e que foi gravado em CD e DVD. Agora, as cantoras brasileiras Simone e Zélia Duncan estão de volta aos palcos nacionais, num convite que partiu de Portugal. “É um convite que muito nos honra”, diz Simone. “Mas foi para fazer um espectáculo de nós duas, não é um Amigo é Casa 2.” É assim que se apresentarão, ambas, primeiro na quarta-feira, dia 4, no Casino Estoril (21h30), depois sexta-feira, dia 6, na Casa da Música, no Porto (21h30), e por fim no sábado, dia 7, no Coliseu de Lisboa (22h).

“Quando fomos a Portugal, estava tudo super fresquinho”, recorda Zélia. “Tínhamos acabado de o fazer. Depois o espectáculo foi-se adensando, amadurecendo, a gente vai tendo cada vez mais intimidade com ele. E foi um momento maravilhoso, de muita alegria musical, muita parceria, amizade, confiança. Ficámos muito amigas, irmãs.”

Simone também guarda boas memórias desse encontro. “A gente fez um show muito bonito, muito prazeroso, duas pessoas com vozes fortes, duas mulheres, sem competir, só somando.” E essa cumplicidade musical permaneceu até hoje. “A Zélia é uma cantora maravilhosa, uma artista maravilhosa. Como pessoa ela é ímpar, e as atitudes dela, tanto como amiga ou como companheira de trabalho são ímpares para mim. O carinho, o respeito e a admiração que a gente tem uma pela outra são ilimitados.”

Zélia, por sua vez, diz: “Eu vim depois da geração de Simone e essa geração foi como um espelho para mim. Quando se diz que o Brasil é um país de cantoras é porque há timbres muito ricos, diferentes, como Simone, como Bethânia, como Elizeth Cardoso. Quando a Simone estourou no Brasil foi uma coisa que abalou os alicerces. Então eu, como uma cantora mais jovem, sempre olhei para ela com extrema admiração.”

“Não vai ser igual”

Nestes anos, Simone e Zélia prosseguiram os seus trabalhos a solo, mas mantiveram sempre essa proximidade que o espectáculo gerou. “Nós continuámos fazendo o Amigo é Casa durante um tempo e depois parámos”, diz Zélia. “Ela fez uns dois ou três discos depois disso, eu participei, estive por perto na medida do possível.” Zélia diz ter como marca, na sua carreira, “gostar de dividir, de experimentar": "Fui cantar nos Mutantes, fui fazer teatro, tenho muitos parceiros musicais como compositora. Mas ver uma colega como Simone trabalhando, e tão perto de mim, é uma emoção enorme.”

Mas não têm cantado juntas ao vivo. “Já faz alguns anos que a gente não se encontra no palco”, diz Zélia. “E estou muito feliz por esse encontro acontecer em Portugal, porque estamos levando para aí uma saudade, uma vontade, que vai ter jeito de começo.” Mas será um novo espectáculo a duas, pensado em exclusivo para Portugal, não a repetição do que vimos em 2009. “O roteiro vai ser bem diferente”, diz Zélia. “Vamos pegar nas coisas mais marcantes nesse show, cantar de novo e juntar muitas outras novidades. Ela fez coisas, eu fiz coisas, o meu álbum mais recente é de sambas e ela quer cantar uns sambas também. Uma coisa garanto: não vai ser igual.” Simone acrescenta: “Algumas coisas do Amigo é Casa serão lembradas, sim. Mas tivemos três meses para preparar o show. E quando se tem um tempo maior, aí a cada hora surge uma coisa na cabeça.”

Um dos temas que deverá entrar é Vida da minha vida, de Moacyr Luz e Sereno (já gravado por Zeca Pagodinho). Outro é Só se for, tema composto por Simone (com Zélia) para o seu mais recente disco. “Deve entrar, acho que sim. Eu adoraria.”

Ser o que a voz é

“Uma pessoa é o que a sua voz é”, ouve-se no tema que abre o mais recente disco de Simone, É Melhor Ser (de 2013). “É uma leitura verdadeira”, diz ela. “Total. E foi escrita por uma pessoa por quem eu tenho a maior admiração [a actriz Fernanda Montenegro, a pensar em Simone e na sua voz]. E não era uma letra de música. Mas como tenho isso pregado na minha parede, uma noite eu olhei, reli, e saiu. É lindo.”

Simone e Zélia, sendo o que as suas vozes são, serão também o elo que as junta. Os concertos em Portugal vão reuni-las, e elas agradecem. “Vou estar em Portugal”, diz Zélia, “com a mesma emoção com que estava em 2009, vendo Simone cantando e sentindo-me extremamente privilegiada por dividir com ela esse espaço.” 

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