A Bazuuca de Braga que entrou a matar

A Braga Music Week está de volta para mais uma prova dos nove (dias), com concertos e uma festa para os Mão Morta. E sempre com o impulso de uma pequena promotora.

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João Pereira fundou a Bazuuca numa altura em que Braga ainda não estava no circuito de concertos ADRIANO MIRANDA

Já há cinco anos que, no fim do mês de Setembro, carrinhos de compras com três andares de colunas de som saem à rua, em Braga, para dar início à Braga Music Week. São nove dias de música, com uma mãozinha da promotora Bazuuca. A edição deste ano já começou e termina no próximo sábado, 7 de Outubro.

Falar na Braga Music Week é falar em Bazuuca. E falar em Bazuuca é falar em Xérifes&Cáboys, a promotora que a antecedeu. 2012, Espaço Quatorze, no centro de Braga. Não havia muitos concertos pela cidade e o Quatorze convidou João Pereira para organizar um festival de bandas de garagem. Como “isso já estava ultrapassado”, o bracarense decidiu organizar concertos uma vez por mês, com bandas emergentes. O primeiro foi de Jibóia, “numa altura em que [o projecto] ainda só tinha duas ou três músicas na Soundcloud”.

Até aí, João Pereira só tinha organizado uma festa de aniversário e tinha corrido “muito mal”. Não pensava em voltar a organizar mais nada mas depois do convite do Quatorze foi sempre a crescer. “Quando estava a ficar com um reconhecimento bom, fiquei sem a Xérifes&Cáboys”, diz João Pereira, afirmando que a promotora foi “capturada por um terrível vilão” e que se viu obrigado a criar uma marca nova e fazer um upgrade do armamento, passando das "pistolinhas” para uma Bazuuca, em 2015. O que começou por ser uma promotora de eventos é actualmente produtora e agência, fazendo o booking a seis bandas: Bed Legs, Grandfather’s House, Máquina Del Amor, This Penguin Can Fly, Tundra Fault e The Missing Link.

Braga, lembra João Pereira, não era uma cidade onde as bandas fossem tocar. Iam ao Porto, a Guimarães ou a Barcelos, mas ali “não havia espaços para concertos” e o Theatro Circo só tinha programação de vez em quando. “Neste momento, Braga faz parte do circuito por onde as bandas passam”, afirma. A Bazuuca, para além da Braga Music Week, organiza vários concertos por cafés do centro da cidade como o Sé La Vie, a Livraria Mavy ou o Juno.

Três palcos, 16 bandas e os Mutantes S.21

Apesar de a programação cultural estar cada vez mais activa, João Pereira acredita que ainda faz sentido organizar a Braga Music Week. Para além da música, o evento une toda a cidade, “desde os pequenos bares, até aos grandes espaços”. “É a forma como fazemos as coisas”, explica. Há concertos na rua com carrinhos de compras, o NAAMOBILE, há concertos itinerantes, há concertos em sapatarias ou restaurantes e há um torneio de futebol que junta “toda a malta da música” e no qual João Pereira vê uma oportunidade para fazer contactos.

A edição 2017 do festival tem como tema a celebração dos 25 anos do álbum Mutantes S.21 dos Mão Morta e no GNRation vai haver programação especial com a participação de 16 bandas. Vão ser três palcos, duas bandas de cada vez, 15 minutos por dupla. “Juntamos os Smix Smox Smux com Máquina Del Amor, os Levitã e os Ermo e os Quadra e The Missing Link, por exemplo, e cada dupla está a preparar músicas do álbum dos Mão Morta”, explica João Pereira. Para além disso, a Braga Music Week leva o Ócio ao GNRation e um filme sobre os The Stooges ao Theatro Circo.

É preciso chatear bastante

Foi pelos eventos que a Bazuuca começou, mas, “como tudo na vida” de João Pereira, as coisas evoluíram naturalmente. Primeiro um blogue sobre música em 2006, depois um programa na RUM, a rádio da Universidade do Minho. Em 2012, organizava concertos mensais num bar, o que o levou a criar uma produtora e depois outra. Anos passaram e começou a ser DJ em várias cidades, e assim conheceu "muita gente” e tornou-se possível agenciar bandas e organizar um festival de nove dias.

João Pereira faz tudo sozinho. Procura concertos, contacta espaços e festivais, trata do soundcheck, dos horários, dos locais para comer. E chateia bastante. “No circuito independente tem de haver muita insistência. Não basta enviar um email e esperar que respondam no minuto seguinte”, argumenta o promotor.

O agenciamento começou com um “tu deves ser um gajo com contactos, não queres ajudar?” vindo dos Bed Legs. Poucos meses depois, a banda estava a tocar o seu primeiro disco, Black Bottle, no palco secundário do Vodafone Paredes de Coura 2016. “Enviei o disco ao [director do festival] João Carvalho e ele veio ver um concerto ao Convento do Carmo. Fechámos logo ali a participação”, explica. Com os This Penguin Can Fly foi igual. Disco. Concerto. Fechado. This Penguin Can Fly actuou no Vodafone Paredes de Coura 2017.

“O que safa são os festivais de Verão. Ainda bem que há muitos porque é aí que está o dinheiro”, confessa. Com um som rock, os Bed Legs, que vão lançar um novo álbum no início do próximo ano, não tocam em auditórios. Assim, o que sobram são bares, onde é difícil ganhar um bom cachet, e os festivais. Já os Grandfather’s House, uma das mais recentes aquisições da produtora, têm um disco novo, Diving, mais preparado para auditórios.

Um namoro antigo

Os Grandfather’s House foram os primeiros a propor agenciamento à Bazuuca. Na altura, João Pereira estava a começar como organizador de eventos e não aceitou. Entretanto, a banda cresceu, tal como a Bazuuca, e, desta feita, “de bom grado”, começaram a trabalhar juntos. Para além dos Grandfather’s House, Máquina Del Amor, que vai lançar o próximo álbum até ao final do ano, é uma aquisição recente.

Muito caminho já foi desbravado e João Pereira leva a Braga bandas que acredita terem potencial, mas não é fácil. “O circuito underground não tem fundos para pagar às bandas”, lamenta. Por vezes é o bar que paga o cachet ou cobra-se bilhete de entrada. Outras vezes a banda janta e dorme na casa do promotor. É aí que vai buscar aquilo de que mais gosta, as amizades.

Para além das seis que constam oficialmente do seu catálogo, a Bazuuca dá uma mãozinha quando pode a outras bandas. “Às vezes tenho propostas para os Bed Legs ou para os Pinguins que não agradam às bandas e, se calhar, interessam a outros que estão agora a começar”, explica, relembrando a altura em que pôs o Amante Negro no Festival Para Gente Sentada.

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