No próximo ano já vamos saber como nos deslocamos em Lisboa e no Porto

O INE vai começar a fazer o inquérito à mobilidade, instrumento essencial para a definição das políticas de transporte nas duas áreas metropolitanas.

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O inquérito do INE pretende perceber como nos deslocamos e que meios usamos para o fazer NFACTOS / Fernando Veludo

Se mora na Área Metropolitana de Lisboa ou do Porto e recebeu uma carta do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), então foi seleccionado para fazer parte da amostra representativa do primeiro inquérito à mobilidade, o IMob 2017. Com este inquérito, que contrariamente ao habitual pode e deve ser preenchido pela internet, o INE pretende saber como se deslocam os habitantes destas metrópoles, quanto tempo demoram a chegar ao seu destino e quais são os custos das deslocações.

“Nós enviamos a carta para cada um dos alojamentos. Agora vamos pedir que dentro de cada alojamento todas as pessoas que lá residam respondam ao inquérito, para conhecermos a mobilidade de todas pessoas” que lá moram, explicou Cristina Neves, directora do Departamento de Estatísticas Económicas do INE, responsável pelo inquérito, referindo que a participação é obrigatória por lei.

No conteúdo dessa carta, está um nome de utilizador e uma palavra-passe para que as pessoas possam responder “preferencialmente” pela internet, a partir do dia 16 de Outubro e até ao final do mês. Caso não o façam, uma equipa de entrevistadores do INE irá presencialmente, porta a porta, recolher as respostas aos inquéritos entre 27 de Outubro e 17 de Dezembro. Os dados serão divulgados no segundo trimestre de 2018.

Composta por 210 mil alojamentos, 80 mil na Área Metropolitana do Porto (AMP) e 130 mil na Área Metropolitana de Lisboa (AML), a amostra do inquérito foi seleccionada com base no ficheiro nacional de alojamentos que o INE construiu a partir dos censos de 2011. Contrariamente à “tradicional desagregação de municípios e freguesias”, a amostra representativa foi encontrada através de “zonas homogéneas de mobilidade, áreas de influência dos vários modos de transporte existentes”, explicou ao PÚBLICO Cristina Neves. Estas zonas têm em consideração que, por vezes, dentro da mesma freguesia os padrões de mobilidade são diferentes. 

Foram “anos de chumbo”

O inquérito do INE custa 600 mil euros, um valor co-financiado em 25 % pelo Eurostat. O orçamento permite cobrir cerca de 10% da população dos 35 municípios das duas áreas metropolitanas. graças também a uma inovação, a possibilidade de preenchimento online, que vem reduzir os custos de recursos humanos e técnicos. “Há cerca de três ou quatro anos, só em Lisboa pensou-se em fazer um inquérito geral à mobilidade. Tínhamos de gastar 1,6 milhões de euros”, relembrou Demétrio Alves, primeiro secretário metropolitano da AML.

Para a AML, segundo Demétrio Alves, os resultados do inquérito são essenciais. “Até 2015, Lisboa atravessou anos de chumbo, em que o sistema se degradou. Só na AML, entre 2008 e 2015, o sistema público de transportes teve menos 150 milhões de passageiros por ano”, quantificou o antigo autarca de Loures, insistindo na urgência de se alterar a matriz modal. "Não pode continuar a haver mais de 60% de pessoas a moverem-se em transportes individuais”, reforça.

Mas para isso, assume Demétrio Alves, é preciso dar ao sistema de transportes públicos "melhor qualidade, maior quantidade, segurança e conforto” e uma integração tarifária, tal como acontece no Porto, com o Andante. “Durante anos não se investiu, não se comprou novo, não se reparou ou conservou o metropolitano, os autocarros da carris, os da CP ou a linha de cascais. Chegou-se a um ponto em que em 2015 estávamos no estado zero”, afirmou.

Na AMP também “há uma necessidade em saber como as pessoas se movem”. Avelino Oliveira, responsável pela área de mobilidade da AMP, mencionou o inquérito como um marco importante e desejado para o “planeamento futuro de toda a rede de transportes” da cidade, que “tem de ser concluído até 2019”. “As novas linhas de metro que vão ser construídas foram analisadas com uma metodologia diferente, com um estudo sobre os pólos geradores de tráfego”, referiu o secretário da AMP, apontando que os resultados do inquérito não poderão ser utilizados nesse caso em concreto mas que serão uma ferramenta para a reprogramação de fundos para os transportes.  Texto editado por Abel Coentrão

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