Papa Francisco revela que teve sessões de psicanálise quando era mais novo

Quando tinha 42 anos, Jorge Mario Bergoglio teve consultas com uma psicanalista que o “ajudou muito”. Agora, sente-se livre, como diz nas entrevistas feitas pelo investigador Dominique Wolton, publicadas num livro na próxima semana.

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O Papa Francisco, na altura ainda conhecido como Jorge Mario Bergoglio, consultou uma psicanalista que o ajudou a "esclarecer algumas coisas" Reuters/PEDRO NUNES

O Papa Francisco revelou, num conjunto de entrevistas compiladas num livro que sairá na próxima semana, que teve sessões de psicanálise durante seis meses quando era mais novo, décadas antes de chegar a Papa, na altura em que tinha 42 anos (entre 1978 e 1979) e dirigia a ordem jesuíta da Argentina, sua terra natal. “Ajudou-me muito num momento da minha vida em que precisava de consultas”, assume.

“Durante seis meses fui a casa dela [da psicanalista] uma vez por semana para esclarecer algumas coisas. Ela era médica e psicanalista. Estava sempre presente”, confessou ao sociólogo francês Dominique Wolton, numa das entrevistas para o livro de 432 páginas, citado pelo Guardian. “Depois, antes de morrer, ela ligou-me” para um “diálogo espiritual”. “Era uma boa pessoa”, conclui.

A revelação é feita num novo livro de entrevistas ao Papa feito pelo investigador francês Dominique Wolton, intitulado Papa Francisco: Encontros com Dominique Wolton: Política e Sociedade e que será lançado durante a próxima semana em França. Resulta de um ano de vários encontros entre os dois.

Escreve o Telegraph que o Papa Francisco deverá ser o primeiro papa que consultou um psicanalista ou, pelo menos, que admitiu fazê-lo. “Houve uma mudança gradual de atitudes em relação à psicoterapia dentro da Igreja Católica desde os anos 1970”, explica Robbert Mickens, editor do jornal católico La Croix, em declarações ao Guardian.

“É muito comum na formação de padre, sobretudo no mundo ocidental, que sejam sujeitos a uma avaliação psicológica antes do acesso a seminários ou dioceses”, afirma. Em suma, esta atitude do Papa acaba por demonstrar que Deus não é a solução para todos os problemas — e que a ajuda psicológica também é necessária.

Agora, aos 81 anos, sente-se livre: “Claro que vivo numa gaiola no Vaticano, mas não espiritualmente. Nada me assusta.”

A conversa surgiu depois de falar na importância dos papéis femininos na sua vida, como a sua mãe e as suas duas avós — e falou também de namoradas do tempo da sua adolescência. “Agradeço a Deus por ter tido estas mulheres verdadeiras na minha vida”, diz.

No livro, além da revelação sobre as consultas de psicanálise na capital argentina de Buenos Aires, o Papa recorda ainda a sua infância e o seu percurso de vida até se tornar chefe supremo da Igreja Católica. Mas também fala da guerra, de questões políticas e culturais, assim como do divórcio, de ecologia e da globalização. 

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