Ataque de rebeldes muçulmanos faz 71 mortos na Birmânia

Os rohingya já reclamaram a autoria dos ataques, afirmando que foram realizados em defesa da minoria rohingya.

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Um grupo de pessoas foge de Rathedaung após o ataque feito pelos rohingya LUSA/NYUNT WIN

Cerca de 71 pessoas morreram na Birmânia, no Sudeste asiático, após um ataque conduzido por 150 homens rohingya, a minoria muçulmana que vive no país. No ataque, que ocorreu esta sexta-feira em Rathedaung, no Norte do estado de Rakhine, os rohingya cercaram 30 postos fronteiriços espalhados por 25 localidades. De acordo com a Reuters, entre as vítimas estão 59 rebeldes e 12 membros das forças de militares do país.

Estes ataques marcam o crescente número de conflitos que ocorrem no estado de Rakhine (na costa ocidental da Birmânia e onde vive a grande maioria dos rohingya) desde Outubro passado. À data, um grupo de rohingya armados com facas e armas de fogo atacou três postos militares perto da fronteira com o Bangladesh.

“Durante a madrugada por volta da 1h os extremistas rebeldes bengalis iniciaram o ataque contra um posto de polícia, com um bombista suicida e pequenas armas”, lê-se num comunicado das forças militares, citado pela Reuters. Entre o armamento utilizado pelos rohingya estão também espadas e explosivos.

Os rohingya já assumiram responsabilidade pela ofensiva que ocorreu durante esta madrugada e deixam um alerta: os ataques não vão ficar por aqui. De acordo com a Associated Press (AP), que cita um comunicado de uma organização a favor dos direitos da minoria muçulmana, a ofensiva foi realizada em defesa da comunidade muçulmana de rohingya, que são vítimas de abusos por parte das forças do Governo.

A crescente violência na Birmânia assumiu grandes proporções após o tratamento do Governo birmanês face aos rohingya, que não os reconhece como etnia. O Governo considera-os “imigrantes ilegais” (ou “bengalis”), após estes terem sido levados para a Birmânia por colonizadores vindos do Bangladesh.

Uma testemunha na cidade de Maungdaw, no estado de Rakhine, contou à AP que os insurgentes invadiram a cidade deixando pelo caminho um rasto de destruição. Já ao jornal britânico The Guardian, um homem rohingya contou que “as pessoas tiveram de se esconder, especialmente os mais velhos e as mulheres”. “Os militares tentaram entrar na aldeia […] e começaram a atirar sobre nós”, prossegue.

Num país maioritariamente budista, os rohingya não têm direito à cidadania – devido às restritas leis de nacionalidade do país. E também não têm direito ao voto, nem à liberdade de circulação e, caso queiram casar, é necessário pedirem autorização.

Os massacres perpetrados contra os rohingya levaram a ONU a considerar que esta era uma das minorias étnicas mais perseguidas no mundo. Para esta organização, as ofensivas contra os rohingya pode resultar no fim da etnia. Porém, Aung San Suu Kyi, conselheira de Estado, negou que as autoridades estejam a realizar uma limpeza étnica contra a minoria muçulmana rohingya.

O ataque surge um dia depois de uma comissão, liderada pelo antigo secretário-geral da ONU Kofi Annam, ter apresentado ao Governo birmanês um relatório com recomendações para que este tome medidas para acabar com a violência em Rakhine e fomentar o desenvolvimento económico da região.

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