Aung San Suu Kyi recusa acusações de limpeza étnica contra os rohingya

Líder do Governo da Birmânia garante que aqueles que fugiram para os países vizinhos serão recebidos em segurança se quiserem regressar.

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EPA/HEIN HTET/Arquivo

Aung San Suu Kyi, líder de facto do Governo da Birmânia, e vencedora de um Nobel da Paz, negou as acusações de que as autoridades estão a fazer uma limpeza étnica contra a minoria muçulmana rohingya.

Em entrevista à BBC, Suu Kyi admite que existem problemas nas regiões onde vivem os rohingya, nomeadamente no estado de Rakhine, mas garante que a expressão “limpeza étnica” é forte de mais para descrever a situação.

“Não penso que esteja a acontecer uma limpeza étnica. Penso que limpeza étnica é uma expressão demasiado forte para o que está a acontecer”, afirmou ao canal britânico. “Penso que existe muita hostilidade – são muçulmanos a matar muçulmanos também, se pensam que estão a cooperar com as autoridades”, acrescenta. Aquilo a que se está a assistir é a uma “divisão”, diz Aung San Suu Kyi, que diz estar a "tentar  fechá-la”.

Em Novembro do ano passado, a agência responsável pelos refugiados das Nações Unidas acusou a Birmânia de estar a lançar uma operação de “limpeza étnica” contra a minoria muçulmana rohingya, que habita na parte ocidental do país. Milhares de pessoas têm passado a fronteira com o Bangladesh.

As forças de segurança birmanesas têm “morto homens, executando-os, massacram crianças, violam mulheres, queimam e assaltam casas, forçando estas pessoas a atravessar o rio” para chegar ao Bangladesh, disse, na altura, à BBC um responsável do alto-comissariado para os Refugiados da ONU, John McKissick. Os membros do Exército e da guarda fronteiriça estão envolvidos em actos de "punição colectiva contra a minoria rohingya", acrescentou. A ONU diz foram cometidas "atrocidades sem precedentes" durante a ofensiva militar contra os rohingya, que poderão configurar limpeza étnica. 

Sobre as pessoas que fugiram para os países vizinhos, Suu Kyi garante que podem regressar: “Se voltarem vão estar em segurança. Cabe-lhes decidir. Alguns voltaram”.

A situação dos rohingya degradou-se consideravelmente a partir de 2012, quando cerca de 200 pessoas foram mortas em confrontos com a população budista, depois de ter corrido a notícia de que uma mulher tinha sido violada por três muçulmanos. Havia vários indícios de que os confrontos foram organizados por alguns dirigentes locais, mas foram os rohingya que acabaram por pagar uma pesada factura. Cerca de 140 mil foram enviados para campos fechados, sem poderem trabalhar ou estudar, ou terem acesso a cuidados de saúde, e os seus já poucos direitos foram ainda mais limitados.

Apesar de tudo, o Governo tem-se mostrado incapaz de contrariar as acções do Exército. As eleições do ano passado foram históricas, trazendo pela primeira vez desde os anos 1960 civis para a liderança do Governo de Rangum. A vitória da Liga Nacional para a Democracia, liderada pela Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, foi saudada em todo o mundo e vista como a grande possibilidade de colocar a Birmânia no caminho da democracia. O maior voto de confiança foi dado pelos Estados Unidos que cancelaram grande parte das sanções económicas que aplicavam ao regime militar.

Porém, para Suu Kyi, os rohingya nunca foram uma prioridade. A activista, filha do “pai da nação”, Aung San, recusa-se sequer a utilizar o termo para se referir à comunidade, pouco diferindo dos generais que sempre combateu. Apesar da vitória eleitoral, os militares mantêm muito poder real e a governação é hoje um objecto em disputa entre os dois sectores.

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