O meu dicionário de moda: X Factor e Weddingwear

A sorte, essa injusta, e a liga da noiva na noite (pouco) nupcial

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X Factor

Para além de um programa de televisão sobre música, o famoso factor X pode ser descrito como uma qualidade, difícil de descrever ou até de entender, que faz com que alguém seja especial ou sobressaia relativamente aos outros. É aquele je ne sais quois que determinadas pessoas têm que as fazem destacar-se.

Não é só na moda que esta característica é valorizada, mas aí assume grande relevância, sendo flagrante se o tema for manequins: é esse quelque chose que faz com que um determinado manequim – homem ou mulher - seja o escolhido, sendo certo que ter uma cara perfeitamente simétrica e um corpo primoroso para a indústria (ou seja, ser um pau-de-virar-tripa) não bastam para chegar, ver e vencer (quem seguisse o America’s Next Top Model sabe exactamente o que estou a dizer).

A verdade é que o factor X é um assunto transversal e todos os dias, independentemente da área, ouvimos falar de pessoas que conseguem o que os outros almejam, que vão um pouco mais além, que se distinguem, ultrapassando a banal fasquia da mediania.

Cada vez mais há quem defenda que essas pessoas têm uma inteligência emocional superior, o que lhes dá uma clara vantagem competitiva (numa espécie de definição para totós, inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, avaliar e lidar com os seus sentimentos e os dos outros).

No entanto, continua a haver muita gente (com especial ênfase para os comentadores profissionais do Facebook, especialistas-sobre-tudo-que-comentam-tudo-e-têm-capacidade-para-resolver-tudo-excepto-a-sua-própria-vida) que não reconhece a existência deste tipo de inteligência, nem o esforço e mérito associados, e justifica o sucesso de quem a detém com a sorte, esse buraco negro onde cabe tudo.

É um comportamento que me chateia, este das pessoas que desistem de concretizar os seus objectivos (ou sonhos, numa visão romântica), e se vêem outro a fazê-lo é porque o safado nasceu com o rabo virado para a lua, o sortudo. Curiosamente – ou não – são também estas pessoas que afirmam que conseguiam fazer o que o outro faz, se lhes apetecesse, mas nunca o concretizam porque dá trabalho desalapar o corpinho do sofá e perder um episódio de Ouro Verde, que ainda por cima está tão emocionante.

Pois que, feito Madre Teresa dos coitadinhos sem sorte, tenho um segredo para partilhar, que um dia li ou ouvi alguém dizer, já não sei, e que adoptei como um dos princípios que me norteiam enquanto ando por cá: ter sorte dá um trabalho do caraças. Entendam se quiserem.  

 

Weddingwear

É a roupa que está associada às cerimónias de casamento sendo, por isso, característicos deste estilo o vestido de noiva, a roupa dos padrinhos e damas de honor e, claro, o traje do noivo.

Quando comecei a pensar neste tema fiquei com curiosidade em saber como surgiu a tradição das damas de honor. Diz a Internet que surgiu na Idade Média, vestindo-se as amigas da noiva de forma parecida, e entrando antes dela no cortejo com o objetivo de confundir espíritos maus e retirar energias negativas que pudessem rondá-la. Soubesse eu disto mais cedo e bem me tinha recusado a encarnar o papel (foi só uma vez, felizmente), porque acredito que cada um se rodeia das energias que merece.

Logo depois questionei-me porque é que não existe a tradição de damos de honor, já que é lógico que eles também necessitam de protecção energética; concluí entretanto que o mais certo era livrarem-se das energias negativas em momento anterior, na despedida de solteiro, se é que percebem onde quero chegar. Adiante.

Uma das peças inultrapassáveis do weddingwear continua a ser a liga que as noivas usam no dia do casamento. As mais tradicionalistas usam uma liga branca com uma fita azul, porque o branco está associado à pureza e à virgindade (hahahaha), e o azul para dar cumprimento ao ditado segundo o qual elas devem usar algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul.  

Há noivas que não ligam nenhuma à tradição e usam-na para a pândega: ultrapassada a mania dos leilões de ligas, muito famosos nos anos oitenta - criados para, de forma descarada, se sacar mais um dinheirito aos convidados -, agora o que está na moda é o noivo colocar a liga na perna da convidada que apanhar o bouquet ou atirá-la, de costas, aos convidados solteiros, tal como a noiva faz quando atira o bouquet ao mulherio descomprometido.

Há ainda casais que optam pela versão premium, segundo a qual o homem que apanhar a liga tem de colocá-la na perna da mulher que apanhou o bouquet.

Confesso que não acho piada nenhuma a este tipo de brincadeira (embora em criança até tenha sentido o glamour avacalhado da coisa) e já não há paciência para os armados em Cupido, pelo que submeto à apreciação alguma inovação neste campo.

Por outro lado, gosto da ideia da noiva usar liga e do recém-casado retirá-la com os dentes, um apontamento ligeiramente selvagem que pressagia momentos divertidos. Mas deixem-se esses pormenores para a privacidade do quarto de hotel, isto se o casal chegar a essa fase porque, não é novidade, para muitos esta noite tem pouco de nupcial.  

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