O meu dicionário de moda: Ui, ui e Vaidade

Uma divagação (algo ressentida) sobre Agosto e uma análise possível sobre a Vaidade

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anja./Unsplash

Ui, ui, isto está a ficar difícil

Já estão a pensar que não consigo encontrar uma palavra começada por u relacionada com moda sobre a qual dissecar, certo? Nada mais errado. Podia escrever sobre underground, underwear, unissexo ou mesmo uwabaki, mas a verdade é que estamos no início de Agosto e apetece-me escrever sobre este mês, que tem tanto de amoroso como de sobrevalorizado.

Agosto é, por excelência, o mês dos escaldões. Por muito que a comunicação social alerte para os perigos do sol, o pessoal gosta é do confronto direto e de uma cor que fica ali entre o lavagante e o salmão.    

É o mês dos concertos fora de portas, da bola de berlim, da cerveja gelada, do smoothie e da caipirinha; de acordar de boa vontade.

Agosto é o mês perfeito para descobrir o interior profundo e aproveitar para ir ao Pingo Doce local abastecer; de ler fait divers, em revistas da especialidade, que não interessam a ninguém; de, na praia, jogar ao vou chegar à água sem levar um único encontrão.

É o mês de esticar o braço para fora, aquando da condução, e cantar em altos berros Eu gosto é do Verão; do Fenistil e do Gazela verde branco (num momento de loucura pode ser substituído pelo Gatão).

Agosto é o mês de construir castelos na areia e de comentar os incêndios, como é tradição; de espreitar, por detrás dos óculos, os corpaços passeadores; de ouvir a miscelânea franco-portuguesa que nos é tão familiar.

É o mês de ir espreitar a noite da moda, das unhas amarelas e do cabelo ao natural; de encher o Instagram com fotos do mar e de fragmentos do corpo (aqueles que estão em condições de se poder mostrar); dos duches quase frios.

Agosto é o mês das feiras e romarias, dos gelados, das chuvas de estrelas e dos eclipses parciais da lua visíveis a olho nu (que quase ninguém vê); de não apodrecer no trânsito; de gargalhadas fáceis e de ócio ansiado. 

É o mês do sexo ocasional e de romances de cordel; da sesta pós-almoço, dos casamentos e da pulseira no pé.

Agosto é o mês da amêijoa temperada com limão e de treinar o inglês emperrado; dos vestidos longos e esvoaçantes em cores choque e das Havaianas (ou imitação). 

É o mês de sonhar com os destinos paradisíacos para onde as estrelas vão; de nos despedirmos da (boa) sardinha; de reencontrar familiares que não vemos há séculos e fingir interesse no que têm andado a fazer.  

Agosto é o mês dos dias longos que nunca mais chega ao fim, rais o parta. Porque quando isso acontecer que quem vai de férias sou eu. 

Vaidade

Se, por um lado, pode significar qualidade do que é vão ou inútil, representa também um sentimento de grande valorização que alguém tem em relação a si próprio, entre outras definições possíveis.

É um substantivo que está intimamente ligado ao mundo da moda e da beleza, cheio de caras larocas e corpitxos torneados, e reconheço que não me faz confusão o facto de alguém olhar para si e gostar do que vê, com uma pontinha de vaidade (porque não?), desde que não seja exacerbada nem desproporcional. Acho, até, que não raras vezes se confunde vaidade com amor-próprio, e outras tantas em que se utiliza a expressão de forma leviana, reflexo de uma invejazita marota - também conhecida por dor de corno - que teima em subsistir.

Ao contrário desta variante salutar, já não suporto a vaidade daqueles que têm a mania que são bons, superiores aos outros. Isso sim mexe-me com os nervos e, desculpem qualquer coisinha, pessoas armadas em pseudo-intelectuais, elitistas e senhores dótores provocam-me vómitos, em sentido figurado, claro, que não sou mulher de andar para aí a regurgitar por insignificâncias (hum, também me irritam aquelas pessoas que vão para as redes sociais partilhar frases inspiradoras e motivacionais, do tipo "és o único a trilhar o teu caminho, por isso escolhe bem os sapatos que usas" mas, neste caso, dou um desconto: quando não dá para mais, não dá para mais, não é?).

Com muita pena e um profundo pesar (ai, vida dura, com a idade vai-me faltando a paciência) tenho de lidar mais vezes do que gostaria com estes seres grandiosos (imagino que, com mais ou menos frequência, isso aconteça com todos nós) e, com o decorrer do tempo, acabei por me aperceber de um fenómeno bastante curioso: tal é o sentimento de arrogância destas pessoas - tão cheias de si, com o ego a transbordar de vaidade - que acabam por se transformar num ícone do inverso daquilo que ambicionam transmitir, ou seja, representam o expoente máximo do provincianismo, na sua versão pejorativa. Porque, como diz a ralé, "a ignorância é a mãe de todas as doenças"; ou "onde se dão, aí se pagam". Ou, como digo eu, metam a vaidade num sítio que cá sei, ficamos todos a ganhar. 

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