O vento em Agosto

Falamos muito do nosso sol, mas nunca nos ouvi elogiar o nosso vento, o bom vento que tanto contribui para a doçura do clima português, quando calha.

O vento é a salvação de Agosto. Não compreendo como é que se diz “não há vento” como se fosse uma coisa boa. Não aceito que se diga, em dias perfeitos de calor: “Só é pena o vento...”

Não é pena o vento. O vento é respiração, é um banho de oxigénio. O vento vem em ondas deliciosas como a água do mar. O vento é uma lambidela de frescura, um socorro, um chamamento, uma prova de vida.

O vento é o outro ingrediente que faz falta, o limão. Não consigo esquecer-me dos dias sem vento que tive o azar de sofrer, desses sítios abafados, com ar morto, sem fuga.

É quando está muito frio que o vento é mau, porque multiplica o frio. Quando está calor, o vento também arrefece — mas é bem-vindo. É uma questão de equilíbrio, de correntes e contracorrentes. Em Portugal, porém, são os adoradores do calor que mandam nas conversas. Ninguém defende o vento.  

Num dia de 40 e tal graus, se aparece um vento fresco e agradável já não é vento: é uma aragem ou uma brisa. A palavra “vento” está tão pejorativamente conotada que não tem salvação. É estranho ter de lembrar que o vento tanto pode ser bom como mau, benéfico como destrutivo, agradável como desagradável. Mas em português de Portugal vento nem precisa de adjectivos. Se é vento já se sabe o que se há-de pensar dele.

Falamos muito do nosso sol, mas nunca nos ouvi elogiar o nosso vento, o bom vento que tanto contribui para a doçura do clima português, quando calha. É em Agosto que mais se aprecia, ou, perversamente, sabe-se lá como, mais se esquece.

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