Pelo menos 12 pessoas morreram na costa portuguesa nesta época balnear

No ano passado, de 1 de Maio ao fim de Julho, tinham sido sete a morrer na costa portuguesa. Desde o início do ano, total de vítimas contabilizadas pela Autoridade Marítima ascende a 26. De fora da avaliação ficam as praias fluviais do interior.

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Rui Gaudêncio

Desde o início da época balnear, a 1 de Maio, morreram na costa portuguesa pelo menos 12 pessoas. A maioria são casos de afogamento, mas há também nos dados oficiais da Autoridade Marítima Nacional (AMN) mortes súbitas por congestão ou choque térmico, bem como acidentes envolvendo pescadores lúdicos e quedas em falésias.

Comparando os 12 mortos registados nesta época balnear com igual período do ano passado (de Maio a Julho) observa-se um crescimento muito significativo. Nos primeiros três meses da época balnear de 2016 tinham perdido a vida sete pessoas.

Aliás, o número registado pela AMP só nesta época balnear, que está ainda a dois meses do fim, iguala o número de mortos contabilizados em toda a época balnear de 2013 e ultrapassa o total dos dois anos seguintes — houve sete mortos nas praias tanto em 2014 como em 2015 ao longo da temporada de veraneio, que termina a 30 de Setembro.

Para a AMN, a abertura da época balnear acontece a 1 de Maio, ainda que apenas cerca de uma dezenas de praias no concelho de Cascais comecem nessa altura a ter vigilância de nadadores-salvadores.

No resto do país, há outros dois dias para o início da temporada: 1 de Junho, em áreas como a Costa da Caparica, a Nazaré ou a generalidade das praias do Algarve, e 15 de Junho no restante território nacional, sobretudo no litoral Norte.

Só em Junho deste ano houve seis mortos. Os números oficiais, fornecidos pela AMN, que garantiu ao PÚBLICO serem os mais actualizados de que o organismo dispõe, não incluem qualquer vítima durante o mês de Julho. Está, por isso, fora deste balanço pelo menos a morte do director do Instituto Macrobiótico de Portugal, Francisco Varatojo, no início deste mês, durante uma sessão de mergulho na zona de Sesimbra.

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A contabilidade oficial tem em conta os mortos registados apenas na área de jurisdição marítima, que é onde tem intervenção a AMN. Isto inclui as praias vigiadas e áreas marítimas sem vigilância, bem como algumas áreas fluviais, que se localizam próximo da foz dos rios.

As praias fluviais no interior do país estão fora da análise da autoridade. Por esse motivo, as vítimas de afogamento, no último mês, em Marco de Canaveses, Tondela e Braga também não estão incluídas nos 12 mortos desta época balnear.

Arranque de ano “inaudito”

Recuando a Janeiro, o número de pessoas que perderam a vítima nas zonas que estão sob jurisdição da AMN e contabilizados por esta autoridade ascende a pelo menos 26. O porta-voz da AMN, Pedro Coelho Dias, classifica o número de mortes até ao fim de Março (14) como “inaudito”.

A situação, explica Pedro Coelho Dias, levou mesmo o organismo tutelado pela Marinha a divulgar pela primeira vez a listagem de vítimas mortais em zonas costeiras fora da época balnear. Habitualmente, as autoridades apenas tornam públicos os números de intervenções realizadas no período de veraneio, entre Maio e Setembro. Por esse motivo, diz, é impossível estabelecer comparações entre as 14 mortes contabilizadas entre Janeiro e final de Março e as ocorrências em igual período de anos anteriores.

As estatísticas reflectem, por exemplo, a morte de um praticante de bodyboard em Cascais, em Março, a de um pescador amador em Leixões, em Janeiro, ou três casos de quedas em falésias. Em Fevereiro, uma mulher de 40 anos morreu numa praia em Ílhavo, quando participava num suposto ritual religioso.

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Os números fornecidos ao PÚBLICO são diferentes dos que tinham sido divulgados pelo Observatório do Afogamento, a 1 de Maio, depois da morte de quatro pessoas nas praias portuguesas no mesmo dia.

Este observatório, criado pela Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores, contabiliza as mortes por afogamento em Portugal com base nas notícias saídas na imprensa.

No seu mais recente relatório, dava conta da existência de 36 mortos por afogamento em Portugal desde o início do ano. O documento, que está disponível para consulta pública na Internet, no site da federação, reúne dados entre 1 de Janeiro e 1 de Maio.

Os números do Observatório do Afogamento não podem, no entanto, ser comparados com os dados oficiais da AMN porque se referem a realidades distintas, explica ainda o porta-voz daquele organismo, Coelho Dias: “Esse relatório contabiliza situações domésticas, como mortes em poços e piscinas particulares. No nosso caso, a informação é baseada em informação que as capitanias dos portos nos entregam, através de uma aplicação informática, na qual dão conta de todos os incidentes e intervenções na nossa área de jurisdição.”

Das 36 mortes contabilizadas pelo Observatório do Afogamento, 18 ocorreram no mar, oito em rios, cinco em poços e duas em tanques. Há ainda uma ocorrência numa marina, outra numa vala e uma outra numa piscina doméstica. Segundo o relatório, apenas dez dos 36 casos foram presenciados por outras pessoas, tendo havido operações de salvamento em oito deles. Nos últimos dias o PÚBLICO tentou, mas não obteve resposta, um contacto com o observatório para obter um balanço mais recente.

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