A Judas londrina da Ana Brasil portuguesa

A Ana viajou para Londres, há três anos, e criou a Judas, uma revista de moda, fora da caixa, que quer mostrar o que é diferente. A Judas chegou a Portugal há pouco tempo, mas o "fogo" já alastrou

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Adriano Miranda

A Ana Brasil nasceu em Portugal e viajou para Londres, onde criou a Judas. Este é o resumo de um projecto quase recém-nascido. Há quase três anos, e depois de ter sido editora do Life&Style do Público, Ana fez as malas e partiu. E é na capital inglesa que a Judas tem crescido.

A Judas é da Ana e a Ana da Judas — ou a Judas é a Ana e a Ana é a Judas? Judas é uma revista bianual, de moda independente, sem “pendor comercial”. Ana é a sua fundadora. Esta é história dos quilómetros que percorreram “juntas”.

A Ana tem 33 anos, acabados de fazer. “A idade de Cristo”, diz. A ironia é clara. A Ana tem a idade de Cristo e a sua revista chama-se Judas. Mas “nada disto teve a ver com religião ou com a tentativa de chatear católicos. Judas era uma palavra que, qualquer que fosse a língua, mantinha a sua grafia. (...) acho que representa bem as pessoas que não se integram naquilo que é considerado o certo, seja isso uma religião, uma atitude ou valoração”, explica.

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“Deixei Portugal no fim de 2014, para fazer um mestrado em Jornalismo de Moda na London College of Fashion (University of the Arts London). A Judas nasceu durante esse período”, começa por explicar. O tempo é precioso e foi o tempo que lhe permitiu idealizar uma revista à sua imagem. Foi “longe da correria de uma redação” que a jovem jornalista teve o tempo necessário “para pensar no que gostaria que uma revista fosse”.

O que a impulsionou a viajar não foi apenas a ambição de fazer o mestrado. Foi também o “ciclo vicioso” entre estágios e trabalhos em Portugal, que lhe impossibitavam a estabilidade económica de que precisava. “O salário de um jornalista júnior (...) é tão baixo que fecha a porta a quem precisa pagar uma renda”, sublinha. E acrescenta: “A indústria da moda é maioritariamente composta por uma elite que funciona de forma a que as pessoas fora dessa elite tenham muita dificuldade em entrar”. Foi a dificuldade de “entrar” que a fez sair.

O espírito dos anos 80

“Farta do sistema” e com a “revista pronta, incluindo market research”, a Ana pensou ‘porque não?’. “Acreditava naquilo que tinha feito” e queria “ver se era possível fazer as coisas de forma diferente”. Assim foi. A primeira edição da Judas saiu no final de Abril de 2016 e a segunda em Abril de 2017. Esta segunda edição chegou às bancas da Under de Cover, em Lisboa, sendo que a próxima edição vai sair no Porto, em Berlim e em Estocolmo. “Já estamos a trabalhar na próxima revista”, que deverá chegar às bancas em Outubro. 

“Acho que as pessoas sentem que a Judas é diferente”, confessa Ana. “Recebi um e-mail de uma miúda em Amesterdão a dizer que nunca tinha recebido uma revista com tanto amor” – o papel de embrulho foi escolhido ao pormenor para combinar com as cores da capa. “Acho que as pessoas sentem estas pequenas coisas, porque nos retribuem com muito apoio e entusiasmo”. E é essa a ambição da Judas: criar um género de “comunidade” e trazer de volta o espírito dos anos 80. “Cria-se uma comunidade que eu, na minha cabeça, gosto de comparar ao pessoal que enviava cassetes e fanzines por correio nos anos 1980”.

A Judas é londrina, ainda que sejam “muitos os portugueses por detrás da revista”. O objectivo da Ana nunca passou por criar uma revista “portuguesa, mas era inevitável”. Depois de vários anos a trabalhar na imprensa nacional, conheceu “muitos portugueses com talento” e, por isso, “o fogo alastrou depressa”. Foram muitos os que se quiseram “fazer parte da Judas quando não passava de um projecto”. E são essas pessoas que divulgam a revista cá e que estão “a fazer com que a revista esteja a vender bem em Portugal”, ainda que seja escrita, na íntegra, em inglês.

“Devagarinho, mas sempre”, em Portugal ou em Londres, a Ana e a Judas não desistem de "mostrar o que é diferente".

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