Já se mergulha no Alqueva mas em Mérida os banhos no Guadiana estão interditos

Reportando-se as análises efectuadas à água em 2016, no troço do Guadiana que atravessa Medelín, a Agência Europeia do Ambiente suspendeu o seu uso para fins balneares.

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A partir desta quinta-feira, os banhistas têm ao seu dispor na albufeira do Alqueva, em Reguengos de Monsaraz, a sua primeira praia fluvial com todos os requisitos a que a lei obriga: torre de vigilância e posto para os nadadores salvadores, posto médico, duches públicos, chuveiro duplo com lava pés, rampas de acesso à água para utilizadores com dificuldades de mobilidade e estacionamento para 120 lugares, incluindo para veículos de pessoas com mobilidade reduzida. Já do lado de lá da fronteira, na zona de Mérida, o rio que abastece a barragem portuguesa está interdito devido à má qualidade das suas águas.

Segundo a informação prestada pela Câmara de Reguengos de Monsaraz, a nova infra-estrutura balnear, que tem uma frente de praia com 120 metros de extensão “e poderá ser utilizada por centenas de banhistas em simultâneo”, foi galardoada com a bandeira azul e recebeu também as classificações de “Praia Acessível” e de “Praia Saudável” por respeitar as normas de segurança e de qualidade do ambiente que a legislação exige. José Calixto, presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, afirma que a praia que é inaugurada nesta quinta-feira é “uma das duas únicas zonas balneares com esta distinção em todo o interior sul de Portugal”.

No entanto, o autarca salientou que a aprovação da praia em plena albufeira do Alqueva, a cerca de quatro quilómetros da freguesia de Monsaraz, “não foi um processo rápido”, frisando a necessidade que houve de efectuar análises sistemáticas à água “durante um ano, para atestar a sua qualidade para banhos, não tendo sido registado um único resultado negativo”.

A mesma satisfação não é extensiva aos cidadãos espanhóis que residem na localidade de Medelín/Mérida. A Agência Europeia do Ambiente (AEA) acaba de interditar a zona balnear no troço do rio Guadiana que atravessa a povoação espanhola, alegando a má qualidade das águas do rio ibérico naquele ponto do seu percurso.

José María Vergeles, conselheiro dos serviços de Saúde e Políticas Sociais da Junta de Extremadura, confrontado pelos jornalistas com as conclusões expressas num relatório da AEA, recordou que em 2016 foram feitas recolhas de água do rio em Medelín para análise, durante a época balnear, e "apenas uma vez" foi necessário “restringir” o acesso dos banhistas até que o problema que adulterava a qualidade da água fosse resolvido.  

Reportando-se à eventual interdição de mergulhos em 2017, Vergeles referiu que ainda não foi determinado se as águas do rio Guadiana que passam pela cidade de Medelín “são adequados ou não para o banho”, referindo que é necessário analisar as amostras à água que são recolhidas pela Direcção-Geral de Saúde Pública até ao mês de Junho para se saber se a água tem ou não qualidade.

O conselheiro da Junta da Extremadura refere ainda que o relatório da União Europeia indica uma "tendência de agravamento" na qualidade da água do Guadiana, conforme têm revelado análises realizadas ao longo dos últimos quatro anos,em Medelín, e apela às autoridades regionais e locais para a necessidade de melhorar os parâmetros de qualidade da água do rio.

A comunidade autónoma da Extremadura vai receber 37,5 milhões de fundos comunitários para desenvolvimento de projectos transfronteiriços com Portugal até final de 2019. Algumas das acções programadas destinam-se a financiar intervenções no rio Tejo e também no Alqueva para travar a proliferação do jacinto-de-água. Ao longo dos últimos três anos, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) aumentou de uma para três as barreiras colocadas no rio Guadiana, a cerca de seis quilómetros de Badajoz, para reter fragmentos da infestante aquática vindos de montante.

A Junta da Extremadura lembra, a este propósito, que "os perigos ambientais não conhecem fronteiras", fazendo referência ao projecto de cooperação entre Portugal e Espanha baseado na instalação “imediata de redes de alerta e de um sistema de vigilância ambiental com ajuda de tecnologias inovadoras”.

A qualidade da água em Alqueva é condicionada pelas afluências vindas de Espanha, cerca de 600 milhões de hectómetros cúbicos anuais. Recorde-se que cerca de 90% da água que circula na bacia do Guadiana, em território espanhol, está destinada ao regadio de mais de 450 mil hectares de culturas que recorrem ao uso intensivo de fertilizantes, pesticidas e herbicidas, uma realidade que concentra na albufeira do Alqueva elevadas quantidades de nutrientes resultantes da actividade agrícola e pecuária gerada a montante. O Plano Hidrológico da Região Hidrográfica do Guadiana para o ciclo 2015/2021 acrescenta uma estimativa: no ano 2021, o bom estado das massas de água na bacia do Guadiana atingirá os 70%. Em 2015 era apenas de 28%

Em Portugal o Ministério da Agricultura já aprovou a instalação de mais 50 mil hectares de áreas regadas com água do Alqueva, boa parte a montante desta barragem.

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