Portugal não vai cumprir metas para os resíduos
Portugal não vai conseguir cumprir até 2020 as metas previstas para os resíduos, nomeadamente alcançar 50% na reciclagem, disseram hoje ambientalistas e a empresa gestora da maioria dos sistemas multimunicipais no país.
"As metas de 2020 não vão ser cumpridas de forma generalizada", afirmou Ismael Gaspar, presidente do conselho de administração da EGF-Environmental Global Facilities, antiga Empresa Geral de Fomento, que gere a maioria dos sistemas multimunicipais do país.
Tendo em conta que a produção de resíduos "tem vindo a subir, é impossível cumprir" com a meta de reduzir a deposição de resíduos em aterro dos 45% alcançados em 2015 para os 35% em 2020, disse.
O Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2014-2020 traça também como objetivo reciclar 50% dos resíduos com potencial para serem reciclados, dos quais 36% foram reciclados em 2015.
Para cumprir a meta, até 2020, Portugal "teria de ter uma recuperação anual entre os 5 a 6% ao ano e, se olharmos para a tendência estatística deste indicador, é impossível cumprir esta meta em 2020", concluiu.
"Estagnámos na reciclagem e nem de perto, nem de longe vamos atingir as metas da reciclagem em 2020", acredita também Rui Berkemeier, da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, que indicou dados diferentes relativos à reciclagem, 28% em vez dos 36% dos dados oficiais da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
"A trajetória é positiva, mas a ambição em termos de futuro deixa-nos numa situação de preocupação, nomeadamente em termos dos resíduos para aterro", reconheceu o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins.
Os três intervenientes falaram durante o Colóquio Ambiental da Região Oeste, em Alenquer.
Para o presidente do conselho de administração da EGF, é necessário mudar os comportamentos dos cidadãos e também dos produtores, que também têm de se sentar à mesa com o Governo para alterar, exemplificou, "30% dos materiais de que são feitas as embalagens", para contribuírem para o cumprimento das metas.
Ismael Gaspar acredita que, se não se trabalhar para o cumprimento dos objectivos estabelecidos para Portugal, "os municípios podem ser confrontados com o aumento desmesurado do custo da recolha e do tratamento" de resíduos.
Rui Berkemeier defendeu que não basta ter ecopontos para cumprir as metas, mas "mudar o paradigma" com modelos de recolha "à medida de cada território", propondo um sistema de recolha porta-a-porta dos resíduos separados e indiferenciados e obrigar o cidadão a pagar "em função dos resíduos produzidos".
O dirigente ambientalista propôs ainda uma gestão conjunta da recolha de resíduos, uma vez que hoje os indiferenciados são recolhidos pelos municípios e os resíduos separados para reciclagem pelas empresas gestoras dos sistemas multimunicipais.
Para Rui Berkemeier, é preciso também que as receitas da reciclagem cheguem aos cidadãos e aos municípios, caso contrário estes "não vão reciclar".
Dados da APA, divulgados no colóquio, indicam que a produção de resíduos aumentou de 4,47 milhões de toneladas em 2005 para 4,52 milhões em 2015, o que significa que cada cidadão produz por ano 58 quilogramas de resíduos.