O Porto vai falar de feminismo — e isso é discutir direitos humanos

Entre 26 e 28 de Maio, mais de uma centena de pessoas vai juntar-se no Porto para o 2º Encontro Nacional de Jovens Feministas. Do evento deve sair um "documento de resultados e conclusões”. Para criar mudança

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“Não é uma questão de feminismo, é de direitos humanos.” Para Catarina Correia a ideia ganhou contornos de certeza inabalável algures em 2009, quando, após participar num projecto promovido pela REDE de Jovens para a Igualdade, o feminismo passou a ser tema de reflexão interior. “Hoje não tenho dúvida de que sou feminista e de que esta luta e vigilância são fundamentais”, disse ao P3 horas depois de chegar ao Porto onde a partir desta sexta-feira, e até domingo, vai participar no 2º Encontro Nacional de Jovens Feministas.

O objectivo é, como na primeira edição, realizada em Lisboa, dar voz aos mais jovens, “num espaço seguro e sem pressões de hierarquias de idade”. A organização fica entregue à associação REDE de Jovens para a Igualdade, da qual Catarina faz parte, em parceria com a e-APEM - Rede de Investigador@s emergentes em Estudos sobre as Mulheres. No Porto, há já 121 pessoas inscritas e as portas estão abertas a quem quiser participar — seja homem ou mulher, tenha convicções mais ou menos fortes. Quando o dia cair no domingo os participantes deverão ter já esboçado um “documento de resultados e conclusões” sobre igualdade de direitos entre homens e mulheres. Essas linhas de acção devem depois ser disseminadas, chegar aos ouvidos de demais associações e partidos políticos.

A Catarina Correia chega muitas vezes a pergunta clássica: e o feminismo, no século XXI, ano 2017, ainda faz sentido? A activista de 29 anos, membro da organização deste evento, não vacila na resposta: “Claro que sim.” E isso foi para ela claro desde muito cedo, ainda que só nos últimos anos tenha ganho uma dimensão maior: "Em miúda já sentia as diferenças entre meninas e meninos. E tinha muita vontade de mudar o mundo", diz. A justificação para a resposta retumbante ("claro que sim") não é de uma alínea só. Primeiro, sublinha, a balança continua desequilibrada, nomeadamente ao nível de “desigualdades salariais e na violência exercida sobre as mulheres”. Depois, “os direitos não podem nunca ser dados por adquiridos”, até porque “o mundo se renova todos os dias”.

O papel das escolas é, por isso, fundamental. E não tem sido feito, lamenta: “Vamos muito a escolas. A educação para os direitos humanos não existe. É uma coisa básica e não existe.”

Entre o Palacete Viscondes de Balsemão (Rua Mouzinho da Silveira, 234/6/8)e a Casa Das Associações & Storyboard Café (Praça Carlos Alberto , 71), vão decorrer palestras e workshops, com participantes nacionais e internacionais (espreita o programa). Já esta sexta-feira, no espaço Espiga (Rua Clemente Menéres, 65A), há uma “biblioteca humana”, momento em que algumas pessoas se transformam em livros e podem ser “consultadas” por quem lá passar. A ideia é, através das histórias dessas pessoas, “desconstruir estereótipos”. Exemplo? A experiência de um militar feminista e heterossexual: “Vai mostrar que os homens podem ser feministas e os feministas não são todos gays.”

Então, mas os homens são para aqui chamados? Pois claro que sim, afirma Catarina Correia, admitindo ainda assim que poucos se mostrem interessados. Entre os 121 inscritos, há apenas sete homens. “É importante que também este apoio cresça. A construção da igualdade deve ser feita em conjunto. E todos ganham com a igualdade.”

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