Pizarro acusa comissão política de Rui Moreira de ter sido “sectária” face ao PS

A culpa pela ruptura na câmara do Porto não foi do secretariado nacional do PS, mas sim da comissão política do movimento O Nosso Partido é o Porto, diz o agora candidato socialista.

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Manuel Pizarro afirma que o fim do acordo com Rui Moreira na Câmara do Porto "é uma página virada" Nelson Garrido

O candidato do PS à Câmara do Porto, Manuel Pizarro, acusa a comissão política do movimento independente de Rui Moreira de ser “sectária” ao recusar “o apoio generoso” que o partido dava à recandidatura do actual presidente da autarquia.

“Os movimento independentes quando se vão, enfim, institucionalizando, e quando vão criando órgãos como comissões politicas, que são órgãos próprios das estruturas partidárias, também não estão isentos de um funcionamento que é, às vezes, um pouco sectário e, às vezes, um pouco difícil de compreender para a cidade”, afirmou Pizarro nesta quarta-feira à noite, numa entrevista à RTP2, um dia depois de Rui Moreira ter estado na mesma estação.

Segundo o também líder distrital do PS, “essa comissão política do dr. Rui Moreira decidiu rejeitar o apoio do PS, o que, aliás, revela que temos partidos políticos com muitos defeitos, alguns dos quais eu tenho criticado e procurado corrigir”.

Agastado com o fim do acordo que tinha com o autarca independente, eleito pelo movimento O Nosso Partido é o Porto, Pizarro revelou que a decisão de se candidatar foi sua e que foi tomada na sequência da entrevista que Moreira deu à SIC na sexta-feira à noite. Então, o presidente da Câmara do Porto anunciou que tinha lugar na lista para o até agora vereador da Habitação e Acção Social, revelando também que o número dois da sua lista seria ocupado por um independente.

Esta quarta-feira, Pizarro recordou essas declarações, respondendo que “há convites que, se forem aceites, diminuem as pessoas que foram convidadas. Há formas de convidar que, de facto, apoucam quem foi convidado, se aceitar”. “A esse convite eu digo: não obrigado!”. E prosseguiu: “Ninguém deve querer ser beneficiado por ser de um partido político, mas também não posso aceitar que alguém seja menorizado por ser de um qualquer político”

“Apoio generoso do PS”

Reiterou que a decisão foi tomada por si ao início da noite de sexta-feira, porque percebeu das declarações de Rui Moreira que já não era possível salvar o acordo. “Não havia nenhuma condição de manter o apoio generoso que nós dávamos à candidatura do dr. Rui Moreira e que a sua comissão política não desejava (...) e eu considerei que eu era a pessoa mais bem preparada para exercer a função de presidente da Câmara do Porto”.

Questionado sobre o futuro da amizade entre os dois políticos e sobre uma eventual reedição do acordo pós-eleitoral — já sugerida por Rui Moreira — Pizarro vincou que “os acontecimentos dos últimos dias são de enorme gravidade e têm consequências para o futuro”. E voltou a lamentar que o projecto em comum com Moreira, “em favor do Porto”, tenha sido interrompido. “Tenho pena, na minha cabeça o Porto e os portuenses estão sempre em primeiro lugar e suplantam quaisquer divergências, e acho que não foi isso que aconteceu neste projecto”.

Sublinhando que “esta página está virada”, o candidato diz partir para as autárquicas “com serenidade, com tranquilidade”. “Eu só já estou a pensar no futuro, no projecto que vou apresentar aos portuenses”.

A terminar destacou que o PS esteve na gestão camarária com Rui Moreira, “até ao último dia, com absoluta boa-fé”. “Provámo-lo quando, na forma que eu considero eticamente irrepreensível, devolvemos os pelouros ao senhor presidente, mas vamos permanecer na vereação e honrar os nossos compromissos com os cidadãos do Porto e com uma atitude construtiva”.

Quanto ao episódio do convite feito “por alguém do PS” a Júlio Magalhães, director do Porto Canal, para liderar uma candidatura à segunda autarquia do país, Pizarro desvalorizou-o. Júlio Magalhães confirmou ontem à SIC que tinha recebido um convite, que achou “normalíssimo”, por o PS precisar na altura de “um plano B”, mas que logo o recusou. E disse desconhecer quem lhe enviou a mensagem por telemóvel.

Os socialistas não escondem a mágoa pela forma como se rompeu o acordo de governação no Porto e aproveitam o Facebook para afirmarem que “o episódio ‘Partido do Moreira’ revela o cinismo de alguns ‘críticos dos partidos’” O mais recente ataque partiu ontem do deputado João Paulo Correia que escreveu que “os culpados pela ruptura são: Rui Moreira e a sua amálgama de apoiantes que o chantagearam desde a primeira hora da coligação pós-eleitoral [com o PS]. Muito são ex-militantes partidários” e outros repugnam aos partidos”. O deputado acrescenta que “estas diferentes origens convergem para um radicalismo que, infelizmente, sequestrou Rui Moreira que, agora, vive perdido na tempestade que o próprio criou”.

“Vai-me à loja!”

João Paulo Correia também se insurgiu contra o facto de o autarca independente “culpar” o secretariado nacional do PS pela ruptura: “A melhor resposta a Moreira é: ‘Vai-me à loja! Conta essa a outro!’” E sai em defesa da secretária-geral-adjunta, Ana Catarina Mendes, que Moreira acusou de tentar condicionar a lista: “Usou sempre bom senso em todas as suas declarações”.

Porfírio Silva, deputado e membro da Comissão Permanente do PS, alude à querela para dizer que “o episódio ‘Partido do Moreira revela o cinismo de alguns críticos dos partidos’. Mais exactamente, daqueles cuja conversa antipartidos é apenas um truque para esconderem o seu umbigo e ambição atrás dessa retórica muito salazarenta”.

A deputada Isabel Santos prefere outra abordagem. “Rui Moreira tem mau carácter, muito mau carácter. A mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, merece alguém à altura do seu povo!”. “Detesto irrevogáveis, inamovíveis e peneirentos armados em divas ofendidas”, escreve Isabel Santos.

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