Especialização dos farmacêuticos não pode depender só da “boa vontade” dos hospitais

Alerta foi feito pela bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, durante uma visita ao IPO de Lisboa.

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Ana Paula Martins defende que a qualidade dos medicamentos devia ser igual em todo o país Daniel Rocha

A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos reiterou, nesta terça-feira, a importância da criação de uma carreira para estes profissionais no Serviço Nacional de Saúde, advertindo que a sua especialização não pode depender apenas da boa vontade dos administradores hospitalares.

"A especialização dos farmacêuticos depende essencialmente do facto de haver por parte dos administradores hospitalares boa vontade, no sentido de criar espaços em hospitais, como o Instituto Português de Oncologia (IPO), para que jovens estagiários possam fazer o seu percurso profissional", disse Ana Paula Martins no final de uma visita às instalações farmacêuticas do IPO de Lisboa.

A bastonária deu o exemplo de colegas que estão a trabalhar em hospitais na região do Alentejo e que têm que se deslocar a hospitais como o IPO e o São Francisco Xavier, em Lisboa, para aprender com especialistas a fazer a preparação de citotóxicos e adquirirem competências. "Isto [a especialização] não pode estar dependente daquilo que é a boa vontade das administrações, porque as próprias administrações também têm as suas dificuldades", vincou.

A visita da bastonária ao IPO foi acompanhada pelos representantes de todos os grupos parlamentares, para alertar os deputados para a importância do trabalho realizado pelos farmacêuticos nos serviços hospitalares, nomeadamente no IPO, e para a criação da carreira especializada.

"O Instituto Português de Oncologia de Lisboa tem serviços de excelência, como outros hospitais pelo país, mas também temos serviços farmacêuticos a enfrentar dificuldades muito grandes", sublinhou, alertando que se esta trajectória continuar pode colocar-se a questão da segurança.

Segundo Ana Paula Martins, esta questão hoje "não se coloca maioritariamente", porque os farmacêuticos que, por exemplo, trabalham no IPO "ainda tiveram a possibilidade de se tornar especialistas, de fazer estágios de carreira e construir um percurso".

"Nós hoje não temos maneira de garantir isto, porque como não temos carreira, não temos entradas em internato" e "não conseguimos garantir o futuro", frisou. Como não há especialização, não se conseguem garantir as competências que precisam de ter para trabalhar em hospitais de todo o país e "não pode haver desigualdades entre serviços", disse Ana Paula Martins.

Para a bastonária, é preciso garantir que "um português em Vila Real de Trás-os-Montes possa ter o mesmo tipo de tratamento, a mesma segurança na utilização dos medicamentos que tem um português que viva em Lisboa". "Nós temos que garantir que todos os serviços farmacêuticos hospitalares deste país tenham farmacêuticos especialistas, treinados e dentro de uma carreira farmacêutica no Serviço Nacional de Saúde", rematou.

A bastonária e os deputados foram acompanhados na visita pelo presidente do Conselho de Administração do IPO, Francisco Ramos, e pelo director técnico do Serviço Farmacêutico, Melo Gouveia, onde trabalham 20 farmacêuticos.

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