Reformas na saúde não estão a sentir-se nos hospitais, dizem farmacêuticos

Ana Paula Martins defende programa de reforço de verbas para revitalizar o SNS. Tema do financiamento é o centro de um debate que acontece neste sábado, organizado pelas oito ordens profissionais do país.

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Ana Paula Martins gostava de já ter conseguido alargar os serviços prestados pelas farmácias Daniel Rocha

A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos considera que o ministro da Saúde tem “energia” e é um “homem bem preparado” para fazer algumas das mudanças necessárias no Serviço Nacional de Saúde. No entanto, alerta que o optimismo da tutela contrasta com o “desânimo” que tem encontrado na visita aos hospitais de todo o país. As reformas estão a demorar, diz Ana Paula Martins, e não chegam ao terreno, onde o “subfinanciamento” também continua a sentir-se. Este é, de resto, o mote de um debate que acontece neste sábado, em Lisboa, organizado pelas oito ordens profissionais do sector.

Um ano depois de ter sido eleita, a representante dos farmacêuticos diz ao PÚBLICO que algumas ideias que elegeu como prioridade estão longe de ser implementadas. Como exemplo de áreas em que se podia ter avançado, refere o alargamento dos serviços prestados pelas farmácias. Ana Paula Martins defende que as farmácias deviam poder marcar consultas e renovar algum tipo de receituário.

Já nos hospitais, diz que continuam a faltar equipamentos, recursos humanos e, sobretudo, uma perspectiva de futuro para quem lá trabalha, destacando à cabeça a falta de uma carreira profissional para os farmacêuticos. “Há uma diferença entre o positivismo que o Ministério da Saúde tem em relação às reformas que quer fazer e o que encontramos no terreno. Os profissionais estão sem esperança. A acção tem de chegar ao sistema de saúde.”

Ana Paula Martins sublinha que muitos dos problemas encontrados pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde nas farmácias hospitalares decorrem da falta de meios, apesar de também reconhecer que há casos que representam fraude.

“O próprio Ministério da Saúde criou um modelo de governação, com coordenadores para a reforma dos cuidados de saúde primários e dos cuidados hospitalares, que leva tempo”, justifica, sobre os atrasos. “O Governo já anunciou muita coisa e tem feito caminho, mas faltam reformas concretizadas, nomeadamente no sentido de termos os hospitais mais bem equipados."

Impostos do tabaco a financiar saúde

Apesar dos atrasos, a farmacêutica destaca a experiência positiva e já em vigor dos medicamentos para o VIH/sida disponibilizados em algumas farmácias na comunidade, acreditando que será dado o mesmo passo na área da oncologia. Reconhece também que as farmácias estão agora numa situação “ligeiramente menos difícil”, com menos casos de insolvência.

A bastonária insiste que as actuais verbas alocadas para a área da saúde estão longe de cobrir as necessidades básicas. Por isso, as oito ordens profissionais do país decidiram unir-se e, neste sábado, promovem um debate na Gulbenkian que conta com a presença do ministro Adalberto Campos Fernandes e do Presidente da República. As ordens defendem que Portugal precisa de convergir rapidamente com a média da OCDE nas verbas encaminhadas para a saúde, o que implica um reforço de até 2000 milhões de euros.

Como? Ana Paula Martins reconhece que cada ordem tem propostas próprias, mas avança que estão unidos na ideia de que o SNS deve ser financiado com impostos consignados, à semelhança do que acontece com a Segurança Social. “Deve haver uma lei de programação da saúde plurianual”, insiste, pedindo um reforço já para 2018.

Além de defender que parte das receitas venham de produtos como o tabaco, ou alimentos com açúcar ou sal, a representante dos farmacêuticos entende que é preciso um debate amplo “para convergirmos em cinco anos com a OCDE”. Como contrapartida, assegura que as ordens têm trabalhado para melhorar o trabalho em equipa e ajudar o ministério a poupar nas chamadas “ineficiências”.

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