A sardinha solitária

Atrevo-me já a prever, sem coragem por aí além, que as sardinhas este ano vão ser muito boas.

Era só uma sardinha numa travessa branca. Mas era a primeira do ano. Em Março já se pode pescar sardinha em Portugal. Mas ninguém pesca. Este ano só podemos apanhar 7000 toneladas de sardinha até ao fim de Julho. Temos de nos guardar para quando ela estiver mais gorda. Mas entretanto um arrastão, sem querer, trouxe meia dúzia de sardinhas na rede.

Calhou-me uma delas para provar, cientificamente assada. Nunca tinha comido uma sardinha crescida tão cedo, na primeira metade de Março, sendo ainda Inverno. Foi excitante.

Atrevo-me já a prever, sem coragem por aí além, que as sardinhas este ano vão ser muito boas. A minha solitária sardinha era corpulenta e bonita. Só não era gorda porque não podia ser. Não pingava nem nada disso, mas olhando para ela e semicerrando os olhos imaginava-se bem a bicha a pingar.

O sabor (fora o fígado) não era propriamente delicioso, mas, lá está, sabia a sardinha. Aliás, sabia mais a sardinha, em Março, do que muitas sardinhas que já comi em Maio e Junho dos últimos anos.

O calor inesperado trouxe a saudade prematura de sardinhas. A cautela costuma exigir que se deixe passar os santos populares e se espere até Julho. Mas, a julgar pela sardinha solitária mais significativa que já estreei, este ano dispensará essas desconfianças.

As petingas espanholas que por aí andam nada têm que ver com as nossas sardinhas. Essas fazem-se esperar, porque merecem. Temos de medir bem os dias e as toneladas para sabermos puxar a brasa às nossas adoradas.

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