Flynn era um "agente estrangeiro". Trump sabia?

Antigo conselheiro de Trump realizou trabalho de lóbi para uma empresa com ligações à Turquia antes e imediatamente depois das eleições. A equipa de transição de Trump foi avisada antes de o nomear, mas diz que não conhecia o trabalho realizado.

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Flynn foi o conselheiro de segurança de Trump durante 24 dias Reuters/YURI GRIPAS

A equipa responsável pela transição presidencial de Donald Trump foi avisada pelos advogados do general na reserva e antigo conselheiro para a segurança do actual Presidente norte-americano, Michal Flynn, que este poderia ter de ser registado junto do Departamento de Segurança como “agente estrangeiro”, noticia a Associated Press citando uma fonte oficial da Casa Branca e uma pessoa próxima a estes contactos.

O aviso, dado à equipa legal da transição de Trump quando o nome do antigo general estava a ser considerado para o cargo de conselheiro de segurança, aconteceu antes da tomada de posse do novo Presidente mas não terá detalhado as razões para o registo junto do Departamento de Justiça. Em causa estará a colaboração de Flynn com o Governo turco poucas semanas antes de ter prestado apoio público a Trump durante a campanha eleitoral do ano passado e antes de ter sido nomeado para o cargo que viria a ocupar durante apenas 24 dias – Flynn demitiu-se em Fevereiro devido aos contactos que estabeleceu com Moscovo, antes da tomada de posse de Trump e ter mentido ao vice-presidente Mike Pence sobre as conversas que teve com o embaixador russo em Washington sobre as sanções norte-americanas, em Dezembro.

Esta sexta-feira, o porta-voz da Casa Branca, durante o habitual briefing diário aos jornalistas, afirmou que Donald Trump não tinha conhecimento dos trabalhos realizados por Flynn antes de ser nomeado, argumentando ainda que este tinha “credenciais impecáveis”.

A lei de registo de agentes estrangeiros do Departamento de Justiça foi estabelecida em 1938 e requere que as pessoas que actuem como “agentes”, ou colaboradores, de Governos e mandantes estrangeiros numa capacidade “política ou quase política” devem declarar publicamente as suas funções e relações.

Esta quarta-feira o Politico demonstrou a colaboração entre a consultora de Flynn e uma empresa holandesa com ligações ao Governo de Recep Tayip Erdogan. Aliás, a notícia surgiu em Novembro, mas agora nova documentação foi entregue ao Departamento de Justiça que acrescenta mais detalhes. Concretamente, que o antigo conselheiro de Trump fez trabalho de lóbi para a empresa com ligações a Ancara antes e imediatamente depois das eleições.

Estes novos documentos revelam que a empresa Inovo BV pagou à Flynn Intel Group 535 mil dólares (cerca de 506 mil euros) entre dia 9 de Setembro e 14 de Novembro para um trabalho relacionado com o clérigo Fethullah Güllen que é acusado por Erdogan de ser o responsável por detrás do golpe de Estado falhado em Julho do ano passado.

Coincidência ou não, no dia das eleições, Flynn escreveu um artigo, publicado no The Hill, apelando aos EUA que expulsasse o clérigo opositor de Erdogan, que se encontra em exílio na Pensilvânia, tal como é desejo do Presidente turco. O problema é que o antigo militar nunca revelou o trabalho que estava a realizar na altura. Pelo menos ao Departamento de Justiça, isto porque a consultora de Flynn divulgou que estava a fazer trabalho de lóbi para a Inovo em Setembro mas não procedeu ao registo de agente estrangeiro. O grupo detido pelo antigo membro da Administração Trump desmente que a publicação do artigo tenha tido alguma coisa a ver com o trabalho em questão.

Robert Kelner, advogado da consultora de Flynn, escreveu uma carta ao Departamento de Justiça esta quinta-feira afirmando que a empresa julgava que a divulgação das funções ao nível congressional era suficiente. E avançou esta semana para um registo como agente estrangeiro com efeitos retroactivos.

“No entanto, por causa do assunto do trabalho da Flynn Intel Group para a Inovo, que se centrava em Fethullah Güllen, cuja extradição é desejada pelo Governo da Turquia, o compromisso poderia ser interpretado como tendo beneficiado principalmente a República da Turquia”, diz a carta de Kelner. “Para eliminar qualquer potencial dúvida” a Flynn Intel Group deu entrada com o registo no Departamento de Justiça, explica ainda a nota.

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