A condição das mulheres debate-se de Norte a Sul

Por todo o país vão acontecer eventos para celebrar o Dia Internacional da Mulher, desde debates a arruadas, alertando para a luta quotidiana contra desigualdades e violência que atingem as mulheres com mais força.

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Consulte o nosso guia - abrangente, mas não exaustivo - para saber onde acontecem debates e manifestações públicas que apelam ao fim da desigualdade e da violência contra as mulheres Nelson Garrido

Por todo o mundo, o Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para celebrar as conquistas da luta pela igualdade de género mas também de reflexão sobre a condição das mulheres na sociedade, ainda subalterna em diferentes níveis.

Em Portugal, em 2015, foram assassinadas duas a três mulheres por mês, na sua maioria por companheiros ou ex-companheiros, de acordo com a UMAR. O Relatório Anual de Segurança Interna mostra que a quase totalidade de sobreviventes de violação são mulheres e os violadores são homens. Culpabilizar as vítimas em casos de violência sexual ou de violação é ainda o padrão comum na Europa, refere a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres.

O PÚBLICO elaborou um guia - abrangente, mas não exaustivo - para lhe mostrar onde acontecem debates sobre os esforços contra as desigualdades de género e as manifestações públicas que apelam ao fim da violência contra as mulheres. 

Women Talks

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) faz 40 anos em 2017. As comemorações, que vão ocorrer ao longo do ano para marcar o longo trabalho de visibilização da situação de mulheres e homens na sociedade actual, arrancam com eventos no Dia Internacional da Mulher.

Esta quarta-feira, a partir das 10h, o evento Women Talks leva à Reitoria da Universidade de Lisboa 14 workshops a cargo de várias organizações com intervenção na área da igualdade de género e da luta pelos direitos das mulheres, com temas desde a prostituição até à era digital e robótica, passando pela importância das mulheres africanas na luta pela igualdade de género e um painel sobre a “encruzilhada dos feminismos a nível mundial”.

No encerramento do evento, às 17h, estará presente a feminista norte-americana Sarah MacCarthy Welsh, da Women’s Political Caucus de Massachusetts, organização promotora da Women’s March de Boston.

Nas ruas

O Dia Internacional da Mulher será marcado em 2017 por uma grande Paralisação Internacional, que vai levar mulheres de mais de 40 países, de acordo com a organização, a fazerem sentir a sua ausência do trabalho profissional ou doméstico.

Em Portugal não haverá greves sindicais, mas estão a ser organizados actos simbólicos de solidariedade em algumas cidades. Sob o mote “Não Me Calo”, a Rede 8 de Março, que reúne colectivos feministas da Lisboa, convocou uma concentração no Rossio, às 17h30, convidando todas as mulheres a saírem mais cedo do trabalho ou a abandonarem, por algumas horas, as tarefas da casa. O protesto também acontece em Coimbra (praça 8 de Maio, às 15h30) e Setúbal (largo da Fonte Nova, às 17h30), marcando o protesto contra as desigualdades e violência de género.

Ainda em Lisboa, um conjunto de organizações juntam-se ao evento mundial One Billion Rising, que convoca “mulheres de todo o mundo e aqueles que as amam” a dançar pelo fim da violência de género. O evento, promovido em Portugal pela organização Changing Wave, está marcado para as 19h, na estação do Rossio, onde vão estar também alguns artistas. O movimento One Billion Rising, lançado em 2012, começou como um apelo à acção depois de divulgados números que mostram, de acordo com a organização, que uma em cada três mulheres no mundo será espancada ou violada durante a sua vida.

No Porto, o Festival Feminista promove uma arruada “para abanar as ruas do Porto em solidariedade com todas a vítimas e resistentes do patriarcado”. O Festival Feminista do Porto acontece até o fim do mês de Março, com eventos artísticos e de debate sobre as lutas das mulheres. A Arruada Feminista tem partida marcada para as 18h, na estação de metro da Trindade.

Na Covilhã, haverá uma performance colaborativa às 17h, denominada MUROS, na Praça do Município. Os eventos continuam às 21h, com o debate "A igualdade vai passar por aqui?"

Todas as mulheres

Uma estivadora, uma oficial da Armada, uma peixeira, uma surfista e uma produtora de documentários sobre o mar vão estar na Gare Marítima de Alcântara para debater as mulheres em profissões ligadas ao mar. A sessão, onde serão apresentados os objectivos do Estudo sobre a Igualdade de Género na Economia do Mar - que será assinado entre a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) e a Direcção Geral de Política do Mar (DGPM) -, tem início às 14h30 e conta com a presença da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, e do ministro Adjunto, Eduardo Cabrita.

Neste dia da Mulher também se celebra a beleza e o poder das mulheres do IPO de Lisboa. O Instituto Português de Oncologia vai promover um workshop de beleza, às 12h, e “sessões de maquilhagem, flores e ofertas surpresa” ao longo do dia. As sessões de maquilhagem, que se destinam a profissionais, doentes e acompanhantes, começam por volta das 10h e estendem-se até às 16h30, no átrio do Pavilhão Central e nos quartos de mulheres internadas que desejem ser maquilhadas.

Em Coimbra, o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) promove a terceira edição do seminário E se a escola do namoro formasse profissionais em violência?, em parceria com a Universidade de Coimbra e a Associação Académica de Coimbra. O evento, com início às 9h no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra, vai abordar temas como o apoio psicológico aos estudantes vítimas de violência no namoro e os casos em que a violência leva os estudantes “até às urgências ou à sala de autópsias”.

Igualdade nos lugares de topo

No Dia Internacional da Mulher, mais de 40 bolsas de valores vão promover o toque do sino pela igualdade de género. Em Portugal, o toque do sino decorre na Euronex às 16h30, com a presença da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Catarina Marcelino. O evento, organizado em Lisboa pela UN Global Compact Network Portugal e a Euronext Lisbon, conta ainda com um painel de debate sobre Empoderamento: A concepção do poder no seio das organizações, que conta com homens e mulheres de várias idades, desde estudantes a gestores de empresas como a L'Oréal Portugal e a Liberty.

Também no Porto se debate a igualdade de género em contexto empresarial. Ao longo desta quarta-feira, entre as 9h e as 17h, o Palácio da Bolsa vai ser palco do Women Summit’17, um evento promovido pela revista One World que juntará mulheres de renome nacional e internacional para debater a igualdade do género em contexto profissional. José Marques da Silva, director da revista, refere ao PÚBLICO que as cerca de 300 participantes esperadas deverão ser, na sua maioria, mulheres “executivas e activas”, entre os 35 e os 50 anos.

Da política à prática

Os representantes dos partidos também se juntam às celebrações do Dia Internacional da Mulher.

Às 12h, junto à rotunda da Boavista, o PCP promove uma acção pública do Dia Internacional da Mulher, com a participação de Ilda Figueiredo, candidata à presidência da Câmara do Porto. Em Lisboa, à tarde, Assunção Cristas, presidente do CDS-PP e candidata à Câmara de Lisboa, abordará a temática da igualdade de género e de oportunidades numa palestra na Universidade Europeia, em Carnide, com início às 17h. À mesma hora, Teresa Morais, vice-presidente do PSD, participará na sessão comemorativa da Dia Internacional da Mulher da Ordem dos Advogados, no Largo São Domingos.

Na sexta-feira, dia 10 de Março, também os eurodeputados João Pimenta Lopes (EUE/ENV), vice-presidente da Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros do PE, e António Marinho e Pinto (ALDE), participarão no debate sobre a emancipação económica das mulheres, com início às 9h30, no Centro de Conferências das Agências Europeias, junto ao Cais do Sodré. Paralelamente, será inaugurada uma exposição fotográfica sobre as mulheres laureadas com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído anualmente pelo Parlamento Europeu a pessoas ou organizações que defendem os direitos humanos.

No dia 11 de Março

Para o sábado, dia 11 de Março, estão marcadas grandes manifestações para celebrar a luta pela igualdade de género.

Em Lisboa, a marcha Constroem Muros, Aprendemos a Voar, organizada pela Rede 8 de Março, tem partida no Largo Camões, às 15h, e segue até ao Intendente, marchando contra “uma educação machista, racista e competitiva que nos torna, num ou noutro momento, opressoras ou oprimidas”. A organização convida ainda as participantes para uma Festa Transfeminista: Existo logo Resisto, que acontece a partir das 22h no Clube Desportivo do Intendente.

Também o Movimento Democrático de Mulheres (MDM) promove uma Manifestação Nacional de Mulheres, sob o tema A Voz das Mulheres pela Igualdade, Direitos, Desenvolvimento e Paz, partindo às 14h30 do Rossio em direcção à Ribeira das Naus. A organização está a preparar transporte a partir de Torres Vedras.

Em Vila Real, vai ter lugar uma marcha pelos Direitos das Mulheres e Igualdade de Género, com concentração às 15h na praça Diogo Cão. A iniciativa está aliada à campanha Parar o Machismo, construir a Igualdade, cujas promotoras tomaram a dianteira da organização da Marcha das Mulheres em Portugal, replicando no nosso país as manifestações que, a 21 de Janeiro, juntaram meio milhão de mulheres em Washington e quase três milhões por todo o mundo.

Parcerias internacionais

No dia 11 de Março, o movimento HeForShe será lançado em Portugal, num evento no Museu Paula Rego, em Cascais. A iniciativa de solidariedade criada pela ONU Mulheres tem como objectivo cativar rapazes e homens para a luta pela igualdade de género. O evento começa às 10h30 e conta com a presença de várias personalidades e artistas nacionais, com a locutora Ana Galvão, a cantora Carolina Deslandes e o actor José Fidalgo.

No Porto, ao longo do fim de semana, vai acontecer um evento satélite da iniciativa Art+Feminism, uma maratona de edição da Wikipedia para aumentar “o número e a qualidade de artigos relacionados com a arte e o feminismo”. O edit-a-thon Arte e Feminismo vai reunir voluntários no espaço Maus Hábitos, nas tardes de 11 e 12 de Março, para criar, expandir e melhorar artigos sobre mulheres do mundo da arte (e não só).

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