O PSD e a Europa

É precisamente nestes momentos que se devem afirmar as lideranças, apontando um caminho, mobilizando o eleitorado para um desígnio e reforçando a sua legitimidade.

A Europa, enquanto projeto político, caminha a passos largos para a sua desagregação e irrelevância internacional. Pode suceder num passo mais abrupto ou numa agonia mais lenta, dependendo de vários fatores, como as eleições francesas, por exemplo. Em todo o caso, esta tendência é incontestável.

O tema é incómodo e talvez por isso superficialmente abordado pelas lideranças e elites. Um pouco como sucedeu na fase pretérita do “Brexit” ou da eleição de Trump, parece pensar-se que, se não se tocar no assunto, qual mau presságio, talvez o problema se esfume…

A chave para arrepiarmos caminho está em Berlim. Apesar de todas as hesitações que a inibem de assumir uma liderança ostensiva, e que se alicerçam em profundas raízes históricas, a Alemanha ocupa um papel nuclear. A crise económica generalizada, o distanciamento de Londres e a fragilidade de Paris deram a Berlim a batuta que comanda a orquestra europeia. Seja na economia e moeda, seja nas migrações ou na segurança externa, a Alemanha tem assumido a direção sem se mostrar… Evita sentar-se no lugar do piloto, mas em momento algum larga o volante.

O problema é que o foco da liderança alemã tem estado – sempre – na política doméstica, assumindo a premissa de que a Europa apenas é relevante na medida em que contribua para os seus objetivos estratégicos nacionais. Mesmo a generosa atitude no caso dos refugiados parece decorrer mais de uma marcada sensibilidade pessoal de Merkel do que de uma política assumida e consolidada.

É neste contexto que o próximo Congresso do Partido Popular Europeu, a realizar no final do presente mês de março, assume uma primordial importância. Neste momento decisivo para a Europa, a atual líder alemã deve ser confrontada com uma questão linear: quer protagonizar uma Alemanha europeísta ou quer ter uma Europa germânica?

Ficar no meio da ponte não é uma boa opção! A primeira escolha pressupõe uma mudança de atitude, com uma política económica expansionista e a concretização da UEM com uma solução comum para as dívidas soberanas, enquadrando assim o Sul da Europa. Assim como implica uma política de imigração partilhada e uma estratégia de cooperação e segurança consistentes, cuidando desse modo da frente leste.

Dir-me-ão que é pedir muito. Contraponho que é o custo necessário se a Alemanha não quiser transformar o seu projeto europeu numa pequena aliança com o Benelux e, se correr bem, com os nórdicos.

Dir-me-ão igualmente que deveremos esperar pelas eleições do Outono porque este tempo aprisiona a Chanceler alemã a uma postura defensivamente “nacional” como forma de limitar os populismos. Contraponho que é precisamente nestes momentos que se devem afirmar as lideranças, apontando um caminho, mobilizando o eleitorado para um desígnio e reforçando a sua legitimidade.

Tudo nos indicia que os ventos da História nos empurram num diferente sentido. A tendência das sociedades é de desconfiança quando não de revolta com projetos que mostram inaptidão, como tem acontecido com o projeto europeu. E o eleitorado alemão não foge a esta regra. Mas se houver coragem e rasgo, esta pode ser uma oportunidade única para colocar nas mãos do povo uma decisão histórica e, assim, ganhar uma imprescindível autoridade democrática que comece a inverter o rumo para o abismo em que estamos submersos.

É a hora de Merkel se definir, sem medo e sem calculismos. E é a hora de todos, na Europa, assumirem as suas responsabilidades e as suas convicções. Espero que o meu partido, o PSD, saiba aproveitar este Congresso para assumir as suas.

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