Uma mensagem contra o tabaco escrita com o fumo de cigarros

Projecto de designer português a viver em Nova Iorque foi premiado pelo Type Directors Club. Com a “Impressora Fumo”, José Maria Neves quis passar uma mensagem anti-tabágica que, “tal como na vida, só é lida no fim”: “This is how you will die”

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José Maria Neves

A folha de papel branca avisa o fumador — “This message was brought to you by cigarette chemicals” — e a mensagem é escrita a fumo. De cigarro, claro: “This is how you will die”. “É assim que vais morrer”, diz a impressora-cinzeiro idealizada e concretizada por um designer português. José Maria Neves, a viver em Nova Iorque, nos Estados Unidos, há quase três anos, criou a “Smoke Printer — Impressora Fumo” no âmbito de uma disciplina de design da School of Visual Arts (SVA).

“O exercício tinha como objectivo criar algo em que o tempo fosse determinante para a acção de um objecto”, explica José, ao P3, em conversa por e-mail. O açoriano de 23 anos quis aplicar este conceito de tempo “a algo que fosse socialmente relevante”. O tabagismo interessou-o por duas razões: depois de viver em Nova Iorque, percebeu como Portugal é demasiado liberal para com os fumadores; e, enquanto designer, quis "provar que consegue falar de qualquer assunto". "Mesmo se for contra um hábito pessoal, como é o caso do tabagismo."

Quando o tema é o vício do tabaco, aponta, o tempo assume-se como “um factor determinante”: “O tabaco é um problema que acompanha um fumador ao longo da vida; não mata logo, deixa marcas, vestígios que se acumulam, sendo o desfecho derradeiro a morte.”

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Uma mensagem anti-tabágica foi a forma escolhida. “Tal como na vida, a mensagem só é lida no fim: ‘This is how you will die’.” Até chegar ao formato final, José criou vários protótipos. A impressora foi “totalmente feita à mão”. A duas caixas de metal, o jovem juntou um stencil recortado numa folha de alumínio, mais espessa, e um queimador à base de etanol, e montou tudo. “Deu-me imenso prazer construir esta Impressora Fumo.”

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A ideia deste “cinzeiro-impressora” é simples. O fumador coloca o cigarro no cinzeiro e o fumo “começa a acumular-se”. Depois de inserir a folha de papel no topo da caixa, alguns segundos bastam para se poder ler a mensagem, que só surge após o cigarro ter sido completamente apagado.

Este projecto valeu ao antigo aluno do IADE — Creative University uma distinção pelo Type Directors Club (TDC): a organização internacional de apoio à tipografia atribuiu-lhe o prémio “Certificado de Tipografia de Excelência”. A “Impressora Fumo” integra a revista anual do TDC, a Typography 38, e uma exposição itinerante internacional. Numa cidade “extremamente competitiva” como é Nova Iorque, diz José, “este prémio serve como um copo de água oferecido a um maratonista”.

Nascido em Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, o jovem designer está, neste momento, a apostar em publicidade, o “caminho” que quer seguir “na capital mundial” dessa área. Depois da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, do IADE e da Restart, a bolsa Silas H. Rhodes, na School of Visual Arts, permitiu-lhe encontrar “o espaço intelectual, emocional e profissional para crescer e amadurecer como artista”. “Viciei-me no difícil”, brinca.

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