De pretendido pela Juventus a condenado por narcotráfico

Julio Colombo foi campeão mundial de sub-17 na selecção francesa, mas teve uma carreira de baixo voo e vai passar os próximos seis anos na prisão.

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Colombo deixou de jogar futebol aos 26 anos DR

Ser bom jogador de futebol aos 17 anos não é garantia absoluta que se vá ser craque aos 27. Pode ser um bom indicador, mas avaliar talento precoce não é uma ciência exacta, por vários motivos, e há vários exemplos que o demonstram. Na selecção francesa de sub-17 que ganhou o Mundial da categoria em 2001 havia vários potenciais craques, mas só um chegou à selecção principal dos “bleus”. Nesse Mundial, Florent Sinama-Pongolle foi o melhor marcador (9 golos) e chegou a jogar uma vez pelos “AA” de França, e agora anda pelo futebol tailandês, uma itinerância que o levou a muito lado, Sporting incluído. Pongolle ainda vai conseguindo ganhar a vida como futebolista, mas outro dos mais promissores dessa geração desistiu há muito, envolveu-se no narcotráfico e vai passar os próximos seis anos da sua vida na prisão.

Julio Colombo, defesa-central dessa geração de 2001 e antigo jogador do Montpellier, foi nesta sexta-feira condenado a seis anos de prisão pela sua participação numa rede de tráfico de droga associada à máfia calabresa. Colombo, de 32 anos, foi um dos 15 condenados por um tribunal de Marselha, tendo ficado provado que o antigo futebolista foi o responsável pela operação de troca, na Martinica (Caraíbas), de 180kg resina de canábis que vinham de Marrocos por 89kg de cocaína – a resina de canábis era encaminhada para França e a cocaína ia para Marrocos. Colombo nunca negou as acusações que resultaram desta operação policial feita pelas autoridades francesa e italiana em Junho de 2015.

Como é que um promissor futebolista chega a traficante de droga? A pergunta não tem uma resposta fácil, mas esta passa muito por nunca ter sido o jogador que parecia ser aos 17 anos. A história começa em Saint-Claude, no arquipélago de Guadalupe, uma das províncias ultramarinas da França nas Caraíbas. Colombo foi descoberto pelos “olheiros” do Montpellier e mudou-se para o hexágono em 1997, com 13 anos. Pouco depois, começou a ser chamado para as selecções jovens de França, chegou a ser pretendido pelo gigante italiano Juventus, e, em 2001, estava na tal selecção campeã do mundo em Trindade e Tobago, bem perto de casa – essa selecção francesa, como já se disse, só deu um internacional francês (mais dois argelinos, um tunisino, um costa-marfinense e um senegalês), mas a selecção espanhola desse torneio que não passou da fase de grupos tinha dois futuros campeões mundiais, Iniesta e Fernando Torres.

Na temporada seguinte, com apenas 18 anos, Colombo estreava-se na primeira equipa do Montpellier e foi tendo aparições regulares, sem nunca ser titular indiscutível, até 2009, num total de 119 jogos em sete temporadas (17 na Ligue 1). Na época seguinte, sem os favores do treinador, treinava-se à parte e o seu contrato chegou ao fim. Ninguém o queria e acabou a carreira. Abriu um restaurante de comida caribenha que não correu muito bem – Colombo não era um grande gestor, mas também foi enganado pelo sócio – e ainda foi empresário da noite, abrindo um bar em Montpellier, mas teve de pagar várias dívidas antigas ao fisco e abriu falência.

Ensaiou uma carreira como agente de jogadores, mas esse também foi um caminho curto e passou a estar grande parte do seu tempo nas Antilhas. Não se percebe muito bem como é que Colombo apareceu associado à máfia calabresa. Ele próprio, a acreditar nas palavras do seu advogado, também não saberia muito bem com quem se estava a envolver: “Ele ignorava a identidade e mesmo a existência de grande parte do bando. Não sabia quem mandava, nem quem financiava toda a operação.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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