Emprego em 2016 cresceu à custa dos licenciados e dos serviços

Taxa de desemprego ficou nos 10,5% no último trimestre de 2016 e média anual nos 11,1%, abaixo da estimativa do Governo. No último ano, criaram-se mais de 82 mil empregos, à boleia do turismo e dos licenciados

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O alojamento e a restuaração criaram quase 36 mil postos de trabalho em 2016 Ricardo Campos

Em 2016, o mercado de trabalho deu sinais de melhorias significativas: a taxa de desemprego continuou a baixar, apresentando um resultado melhor do que o esperado pelo Governo, e o emprego aumentou, apesar da travagem na recta final do ano. A economia portuguesa criou 82.100 empregos entre o último trimestre de 2015 e o de 2016, beneficiando sobretudo os trabalhadores que terminaram o ensino superior, as mulheres e as faixas etárias entre os 45 e os 64 anos e entre os 15 e os 24 anos. Os serviços foram o sector responsável pela criação do maior volume de postos de trabalho, principalmente o alojamento e a restauração.

Estas são algumas das conclusões que se podem retirar das estatísticas trimestrais do mercado de trabalho, divulgadas nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).  

No último trimestre de 2016, a população empregada era de 4.643.600 pessoas, o que significa que havia mais 82.100 empregados que no mesmo período de 2015. Esta evolução vem prolongar as variações homólogas positivas registadas desde o quarto trimestre de 2013 e mantém um ritmo de crescimento bastante elevado (de 1,8%).

O aumento do emprego foi particularmente visível entre os trabalhadores com mais qualificações, com destaque para os que completaram o ensino superior, que são agora mais 7,1% do que em 2015, ou seja mais 81.700 pessoas. Quem tem o secundário também encontrou lugar no mercado de trabalho. E apenas os trabalhadores que não foram além do terceiro ciclo do ensino básico viram as suas oportunidades de emprego encolherem, com a população empregada a recuar 1,5%.

O facto de haver trabalhadores com melhores qualificações não significa que os empregos sejam mais qualificados, dado que as pessoas podem optar por trabalhar em áreas diferentes e os dados do INE mostram que é nos serviços que o emprego mais cresce.

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Embora a indústria seja o sector onde a taxa de crescimento da população empregada é maior (4,1%, com particular destaque para a construção, que registou um acréscimo homólogo de 6,7%), foi nos serviços que se criou maior volume de emprego. Entre o último trimestre de 2015 e o de 2016, foram criados quase 53 mil postos de trabalho na área dos serviços (a que corresponde um aumento de 1,7%), que assimila 68,4% da população empregada.

Beneficiando do desenvolvimento do turismo em Portugal, o alojamento e a restauração foram os que mais contribuíram para o desempenho positivo do sector dos serviços. O emprego nestas áreas teve uma variação homóloga de 14,2% ( mais 35.700 postos de trabalho). As actividades de saúde e apoio social, os transportes e as actividades imobiliárias também tiveram comportamento positivo, compensando a queda do emprego no comércio e na educação.

Os jovens também conheceram desenvolvimentos positivos na área do emprego – algo que o primeiro-ministro associou, nesta quarta-feira, ao abandono escolar precoce que aumentou no ano passado. O emprego entre os que têm 15 e 24 anos aumentou 5,5%. Mas foi nos trabalhadores mais velhos (dos 45 aos 64 anos) que o aumento de 4,1% se traduziu em maior número de postos de trabalho criados (ver infografia).

Uma análise à evolução mais recente (entre o terceiro e o quarto trimestre de 2016) mostra uma redução da população empregada, interrompendo a recuperação iniciada no início de 2016. Esta diminuição (de 0,4%, que se traduziu em menos 17.900), destaca o INE, tem ocorrido “em quase todos os quartos trimestres da série iniciada em 2011”.

O número de pessoas desempregadas até caiu, mas não foi suficiente para compensar o recuo que se verificou na população activa, o que acabou por conduzir a uma estagnação da taxa de desemprego nos 10,5%. Olhando para a última década, o desemprego aumentou quase sempre do terceiro para o quarto trimestre - só em 2007 e em 2012 isso não aconteceu, pelo que ainda é preciso esperar pelos próximos trimestres para perceber se esta estagnação pode comprometer as metas do Governo para 2017, ano em que espera alcançar os 10,3%.

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O INE refere, na nota que acompanha as estatísticas, que a diminuição trimestral do número de desempregados (em 6300 pessoas) ficou a dever-se “ao fluxo líquido negativo do desemprego com o emprego, que mais do que compensou o fluxo líquido positivo do desemprego com a inactividade”.

62% no desemprego há mais de um ano

Como a criação de emprego continua a não ser suficiente para absorver os desempregados, há bolsas de desempregados que continuam a ter grandes dificuldades em voltar a trabalhar.

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O desemprego de longa duração até recuou, tanto na evolução mais recente como na comparação com o final de 2015. Havia 337.400 pessoas que procuravam trabalho há 12 ou mais meses, menos 2,8% do que em Setembro e menos 14,5% do que em Dezembro de 2015.

Porém, quando se olha para o peso que os desempregados que procuram trabalho há um ano ou mais tempo têm no total do desemprego, a situação continua a suscitar preocupação. No final de 2016, 62,1% dos desempregados esperavam por uma oportunidade no mercado de trabalho há pelo menos 12 meses, sendo que destes 46,3% já estavam no desemprego há 25 ou mais meses.

O peso dos desempregados de longa duração no total tem estado acima dos 60% desde o segundo trimestre de 2013. É verdade que durante este período já esteve próximo dos 70% e que entretanto baixou, mas está a ser difícil colocar a percentagem abaixo desta barreira.

O desemprego jovem também se mantém em nível elevado. Atingia, no último trimestre 27,7% da população activa entre os 15 e os 24 anos, registando-se uma subida face à taxa de 26,1% do trimestre anterior. Na comparação homóloga, o desemprego jovem caiu face aos 32,8% que tinham sido apurados pelo INE para o quarto trimestre de 2015. No final do trimestre, o INE ainda dá conta de 101.800 desempregados entre os 15 e os 24 anos.

Média anual melhor do que o previsto

As estatísticas agora divulgadas também permitem olhar para o que aconteceu no conjunto do ano, com a taxa de desemprego média de 2016 a ficar nos 11,1, ligeiramente abaixo dos 11,2% estimados pelo Governo e a mais reduzida desde 2010.

O resultado foi ao encontro das previsões da Comissão Europeia e ficou muito próximo das estimativas das outras instituições internacionais, que apontavam para um valor a rondar os 11%. Em 2017, e de acordo com as estimativas recolhidas pelo Conselho das Finanças Públicas, a taxa de desemprego deverá continuar a recuar para valores entre os 10% e os 10,7%.

Esta semana, o ministro das Finanças garantiu ao secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) - que esteve em Portugal para apresentar o seu relatório mais recente onde prevê que o desemprego se mantenha acima de 10% neste ano e no próximo - que a taxa de desemprego ficará abaixo dos dois dígitos em 2017.

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