“Gestão dos conflitos passa muitas vezes para as mãos dos alunos”

João Sebastião, investigador do ISCTE e antigo responsável pelo Observatório de Segurança em Meio Escolar, aponta mais o dedo aos professores do que aos alunos.

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O sociólogo João Sebastião foi responsável pelo Observatório de Segurança em Meio Escolar PAULO PIMENTA / PUBLICO

A indisciplina em sala de aula é um dos problemas da escola portuguesa?
O principal problema da escola é o insucesso escolar porque o objectivo da escola antes de tudo o mais é o de ensinar. Portanto, desviar o assunto para a indisciplina é desviar do essencial. Dito isto, lembro que a questão da disciplina é comum a todas as organizações, não é um problema específico das escolas. Trata-se de garantir que todos os indivíduos nessas instituições tenham comportamentos semelhantes e expectáveis.

O que é mais difícil nas escolas por causa das idades dos alunos?Esse é um dos problemas. Muitos estão na adolescência em plena fase da contestação da autoridade. Depois há a questão da dimensão. Temos mais de um milhão de alunos todos os dias nas escolas e todos eles são diferentes. Não é possível levá-los a comportarem-se de forma igual.

E também temos os professores, que são mais de 120 mil, e muitos deles próprios também não cumprem as regras das escolas. Criam as suas próprias o que leva a uma diversidade muito grande de comportamentos que tem também influência no comportamento dos alunos. Por exemplo, há uns que não querem as mochilas em cima da mesa, outros que não querem chapéus nas cabeças, outros não se importam, etc. Portanto são os alunos que acabam por ter de descobrir quais são as características particulares dos professores para se adaptarem a elas. A gestão de conflitos passa assim, muitas vezes, para as suas mãos.

Nos inquéritos feitos a professores no âmbito dos testes PISA [estudo da OCDE feito de três em três anos], os docentes portugueses são dos que mais reportam situações de indisciplina. Quer isto dizer que os alunos portugueses são mais indisciplinados do que outros?
Nem de perto, nem de longe. O que se passa é que os professores portugueses têm uma cultura defensiva que os leva a considerar que tudo o que é problema na escola é responsabilidade de fora. Por exemplo, a indisciplina é um problema das famílias que não educam bem os seus filhos.
O que devíamos ter era um sistema de regras simples e claras para toda a comunidade escolar e que fosse discutido por todos e aplicado a todo. As escolas em que tal acontece, que são poucas, obtêm resultados muito mais eficazes.

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