Municipalização da Carris "é uma grande lufada de ar fresco"

Tiago Farias, presidente da companhia de autocarros da capital, não quer comentar a posição do PCP, mas dá a entender que o seu projecto para a Carris está completamente sintonizado com os desejos da Câmara Municipal de Lisboa.

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Tiago Farias foi reconduzido na administração da Carris há duas semanas Miguel Manso

O presidente do Conselho de Administração da Carris já não vê outro caminho que não seja o da municipalização da empresa, que se concretiza oficialmente esta quarta-feira. “Nós temos aqui um projecto que é válido, que traz muito valor acrescentado à cidade e, portanto, do nosso ponto de vista, está tudo a funcionar. A 1 de Fevereiro haverá um novo accionista e não estou a imaginar que isto se possa inverter. Espero que não aconteça, naturalmente”, diz Tiago Lopes Farias ao PÚBLICO.

O dirigente não comenta a posição do PCP, que na sexta-feira passada apresentou no Parlamento um pedido de apreciação do decreto-lei que transferiu a Carris para a câmara de Lisboa por considerar que a empresa deve ser gerida pelo Estado e não pela autarquia. “Nós achamos que o dia 1 de Fevereiro é uma grande lufada de ar fresco, é um grande boost para inverter um período que foi muito pesado para os transportes públicos”, afirma Farias, que foi reconduzido na liderança da transportadora a 19 de Janeiro, por deliberação camarária.

A sintonia entre a administração da Carris e a autarquia, de resto, parece absoluta. Tiago Farias, que foi director municipal de Mobilidade e Transportes até ao início de 2016, pensa que a municipalização é um passo “marcante”, pois “pela primeira vez a Carris aproxima-se de quem desenha, planeia e gere o espaço público e a cidade”, o que “nunca existiu” nos últimos 40 anos.

O responsável pelos autocarros e eléctricos da capital sublinha que tem um projecto desenhado para os próximos três anos e realça que a instabilidade tem de desaparecer definitivamente do dia-a-dia da empresa. “Um dos seus aspectos cruciais deste passo que se está a dar agora é dizer ‘nós temos um caminho, temos um projecto, queremos chegar a 2019 com novas valências, com novas linhas, com novos produtos, com novas tecnologias e queremos fazê-lo de forma construtiva’”, acrescenta Farias.

A par do lançamento de novas carreiras, a Carris quer renovar a frota, contratar mais pessoal e disponibilizar novos serviços aos utilizadores, como wi-fi nos autocarros e a integração do estacionamento e das bicicletas no sistema tarifário. Um caminho que só se pode fazer “se as coisas forem feitas de uma forma bem pensada, progressiva, com interacção de quem melhor conhece o terreno, que são as juntas de freguesia, com a interacção de quem melhor conhece o plano estratégico da cidade, que é a Câmara Municipal de Lisboa”, afirma o administrador.

Para tudo isto é preciso dinheiro e Tiago Farias está convicto de que conseguirá manter a Carris com boa saúde financeira. “O que acontece em todas as cidades em que o serviço de transporte público é focado no cliente é que a sustentabilidade financeira é obtida parcialmente através de fundos que não vêm directamente da venda dos bilhetes”, explica, confiante que “a Carris ficará no topo daqueles que menos dependem de fundos externos”. O presidente da câmara, Fernando Medina, já garantiu várias vezes que a empresa “não vai voltar a acumular dívida”.

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