Um em cada 12 profissionais de saúde diz ser vítima de bullying

Inquérito feito no Centro Hospitalar de S. João, no Porto. São sobretudo enfermeiras e administrativas as vítimas de humilhações e comportamentos hostis no trabalho. Os agressores são predominantemente os seus chefes.

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Trabalhadores temporários estão mais vulneráveis NELSON GARRIDO / PúBLICO

Um em cada 12 profissionais de saúde do Centro Hospitalar de S. João (Porto) admitiu ser vítima de bullying no local de trabalho num inquérito efectuado online e a que responderam 707 trabalhadores. São sobretudo enfermeiras, administrativas e assistentes operacionais que declaram sofrer este tipo de agressão e são predominantemente os seus superiores hierárquicos quem pratica bullying (exposição sistemática a humilhação e a comportamentos hostis).

“Os profissionais de saúde são um grupo ocupacional particularmente exposto ao bullying. Em Portugal, apenas existem dados representativos deste fenómeno em enfermeiros, pelo que este é o primeiro estudo de grande dimensão que avalia o bullying nos restantes grupos profissionais ligados à saúde”, explica, em comunicado, Pedro Norton, o coordenador deste estudo efectuado pela Unidade de Investigação em Epidemiologia do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Responderam ao inquérito online que serviu de base a este estudo 707 profissionais de saúde do Centro Hospitalar de S. João, sobretudo mulheres (72,7%), enfermeiras em mais de um terço dos casos, e jovens – quase metade tinha menos de 35 anos.

Os resultados indicam que são sobretudo as enfermeiras as vítimas deste tipo de agressão (15,5%). O bullying no grupo profissional dos médicos e dos técnicos tem muito menos expressão (apenas 3,4% e 2,7%, respectivamente). Quanto aos supostos agressores, esses são na maior parte dos casos (64,8%) os superiores hierárquicos, basicamente enfermeiros-chefes e médicos.

Os principais factores que potenciam a exposição a este tipo de agressão no local de trabalho são “a falta de estabilidade” no emprego e “as políticas de flexibilidade laboral”, concluem os autores do trabalho, intitulado Prevalence and Determinants of Bullying Among Health Care Workers in Portugal e que foi publicado na revista Workplace Health & Safety.

Não é por acaso que os trabalhadores temporários são “um grupo particularmente vulnerável, devido ao receio de serem despedidos ou de não verem o seu contrato renovado, no caso de denunciarem a agressão”, frisam. De igual forma e sem surpresa, são os trabalhadores com contratos a termo os que se encontram em situação de maior vulnerabilidade e que por isso “sofrem um maior risco de agressão, em comparação com os que possuem contrato por tempo indeterminado”.

Destacando que a prevalência de bullying observada neste estudo (8%) é inferior à registada noutros países, como a Austrália (50%), os Estados Unidos da América (38%) e os países europeus que participaram no 5.º inquérito sobre as condições de trabalho em 2010 (11,3%), acentuam que continua a afectar “um número elevado de profissionais de saúde”. Defendem, por isso, que é “imperativo” o estabelecimento de medidas preventivas que “possam minimizar as suas consequências quer a nível individual (físicas e psíquicas) quer a nível institucional (absentismo)”.

A este nível, acrescentam, devem ser os serviços de Medicina do Trabalho a ter “um papel activo” no desenho de intervenções que visem “a identificação e acompanhamento clínico dos casos, a referenciação para estruturas de apoio e a definição de estratégias preventivas que eliminem ou minimizem este problema”.

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