Dar aos socialistas o lugar de Tusk pode ser o troco para eleição de Tajani

Conservadores dominam as três principais instituições europeias com a eleição de italiano.

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Tajani foi comissario da Indústria durante o tempo da fraude das emissões da Volkswagen CHRISTIAN HARTMANN/Reuters

Um Presidente com um currículo pouco entusiasmante, e o domínio total do grupo Popular Europeu (conservador) nas três instituições-chave da União Europeia foi o resultado das eleições de terça-feira para o Parlamento Europeu (PE). O italiano Antonio Tajani, 63 anos, que foi jornalista, depois porta-voz do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi e finalmente comissário de Durão Barroso, foi eleito apenas à quarta e última ronda numa eleição especialmente disputada em Estrasburgo.

Com esta vitória conservadora no PE, há quem ponha em causa o domínio total dos conservadores nas três instituições europeias centrais, e começa a desenhar-se a hipótese de que a presidência do Conselho Europeu (actualmente ocupada pelo polaco Donald Tusk, do PPE), possa vir a ser ocupada por um socialista.

A presidência de Tusk termina a 31 de Maio. “Não quero dizer que as hipóteses de Donald Tusk foram reduzidas a um mínimo, mas a sua situação complicou-se”, comentou o antigo primeiro-ministro polaco Leszek Miller (de esquerda). O actual Governo polaco não deseja a sua recondução, tanto por ser de outro partido político como pelas críticas de Tusk, antigo primeiro-ministro, ao actual executivo. 

Quanto a Tajani, a associação a Berlusconi é vista como uma fraqueza numa altura em que uma das principais questões na União Europeia é o que fazer contra a ameaça do populismo.

Mais, os seus “seis anos sem nada que os distinga” na Comissão Barroso, como descreve o Politico, não o ajudam, sobretudo depois de um presidente carismático como Martin Schulz. Mas o socialista alemão também foi muito criticado pela sua visibilidade.

Críticos lembraram ainda que Tajani era o comissário responsável pela Indústria entre 2010 e 2014, quando a Volkswagen usou software que permitia aos seus automóveis passar com distinção testes de emissões de CO2. O comissário sempre disse nunca ter sabido do assunto – embora o seu gabinete recebesse informação sobre as discrepâncias entre as emissões na estrada e no laboratório.   

Aliança de interesses opostos

O italiano é um rosto há muitos anos presente em Bruxelas - foi eleito eurodeputado pela primeira vez em 1994 -, mas sem muita presença para além dos corredores das instituições europeias. Assume a liderança de uma das instituições que tem vindo a ganhar poderes com as tentativas de maior legitimidade democrática. Mas o acordo que permitiu a sua vitória foi criticado por juntar entre grupos com posições opostas em questões importantes, como a política de austeridade e até a integração europeia.

O candidato derrotado dos socialistas, Gianni Pittella, foi acusado pelos populares de “fomentar divisão” num Parlamento que sempre funcionou com acordos e partilha de poder entre os dois principais grupos, o popular e o dos socialistas.Tajani foi eleito com 351 votos e Pitella ficou com 282.

O liberal Guy Verhofstadt retirou a sua candidatura a favor de Tajani. Mas este só conseguiu a maioria depois de obter os votos dos Conservadores e Reformistas Europeus, o grupo que junta o Partido Conservador britânico, que está a levar a cabo a saída do Reino Unido da União Europeia, e populistas como o partido Alternativa para a Alemanha.

“A nossa abordagem foi sempre a de construir pontes e formar parcerias”, disse o presidente do grupo popular, o alemão Manfred Weber, apresentando o grupo como “uma coligação pró-europeia para reformar a Europa”.

Já Pittella descreveu a divisão dos conservadores e socialistas como uma questão política: “Não vamos voltar a ter uma grande coligação” entre os dois principais grupos. “Precisamos de clareza. A Europa e as nossas democracias precisam de divisões claras entre ideias”, declarou, citado pelo jornal e site Politico.

Do lado dos liberais, Guy Verhofstadt parece ter esquecido as palavras que um dia disse – “não há lugar para Berlusconis e Orbáns no mundo” – para apoiar um antigo colaborador do antigo primeiro-ministro italiano e se juntar em aliança a um grupo político onde está presente o partido do primeiro-ministro húngaro.

A posição de Verhofstadt fica enfraquecida após estas eleições. Já antes a sua aproximação dos populistas italianos do Movimento 5 Estrelas tinha causado perplexidade e a sensação de que estava disposto a tudo para conseguir votos.

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