Morreu o antigo Presidente iraniano Akbar Hashemi Rafsanjani

Figura influente e enigmática, Rafsanjani tinha 82 anos.

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Rafsanjani, figura dominante da política iraniana, morreu este domingo vítima de ataque cardíaco Reuters

O antigo Presidente iraniano Ali Akbar Hashemi Rafsanjani morreu este domingo aos 82 anos em Teerão, vítima de ataque cardíaco. Personalidade dominante na política iraniana desde os anos 1980, passou de representante do poder para figura da oposição reformista, sem nunca deixar o círculo dos mais influentes do país.<_o3a_p>

Rafsanjani presidia actualmente ao Conselho de Discernimento, a mais alta instância de arbitragem política do país, que resolve conflitos entre o Parlamento e o Conselho dos Guardiões.<_o3a_p>

Foi Presidente do Irão entre 1989 e 1997 e nunca mais venceu eleições, perdendo em 2005 contra Mahmoud Ahmadinejad. Em 2009 surgiu como figura do Movimento Verde de protestos populares em oposição ao regime, embora não o tenha apoiado publicamente. A sua filha chegou a ser detida.<_o3a_p>

Em 2013 anunciou a sua candidatura como representando o campo reformista e moderado às eleições presidenciais, apenas minutos antes do encerramento das inscrições. A sua candidatura foi considerada inválida. Mas o candidato do seu campo - que o New York Times considera mesmo a sua alma gémea política - Hassan Rouhani, foi surpreendentemente o vencedor.

E foi Rouhani quem protagonizou (com o apoio do establishment), o acordo sobre o nuclear com os Estados Unidos de Barack Obama, que marcou uma nova etapa na vida da República Islâmica. <_o3a_p>

Rafsanjani começou a sua vida política na oposição ao Xá Reza Pahlavi, junto com o ayatollah Khomeini, que conheceu em Qom, a cidade dos teólogos. Foi preso várias vezes pelo regime, e depois tornou-se uma figura importante na Revolução de 1979: foi ele quem, segundo analistas, se livrou dos rivais dos líderes religiosos, do primeiro presidente pós-revolução às milícias Mujahedin do Povo, permitindo a concentração de poder na elite religiosa. Ficou conhecido como “o tubarão”, reputação que não parou de honrar. Foi comandante da guerra contra o Iraque (1980-88) e diz-se que foi ele quem convenceu Khomeini a aceitar um cessar-fogo.  <_o3a_p>

Ao longo de anos de altos e baixos, Rafsanjani, mestre de astúcia tanto na política como nos negócios, não perdeu a sua posição de influência. Como empresário juntou uma grande fortuna, e era considerado um dos mais ricos, se não o mais rico, homem do Irão. <_o3a_p>

Foi acusado de ter conseguido a fortuna graças a ligações irregulares, sempre negou essas acusações. A família tinha uma empresa de pistachios, que são das principais exportações do Irão e beneficiaram com a abertura do regime – esta foi a base de um império que veio a incluir empresas de construção civil, automóvel, a uma companhia área privada, segundo a Bloomberg.<_o3a_p>

A correspondente da BBC Kim Ghattas sublinha que Rafsanjani era um dos poucos iranianos com gravitas para contrariar o Líder Supremo, que é quem realmente detém o poder no país. Assim, a sua morte é uma perda para o campo moderado, e ocorre meses antes das presidenciais, marcadas para Maio de 2017 e em que Rouhani deverá tentar a reeleição. Estas eleições estão a ser vistas como uma espécie de referendo à política de Rouhani face ao Ocidente e ao acordo sobre o nuclear. Este acordo está entretanto sob pressão numa outra frente, a América de Donald Trump. O Presidente eleito dos Estados Unidos, que toma posse dia 20 de Janeiro, já se pronunciou contra o acordo.<_o3a_p>

Em Teerão, uma multidão juntou-se perto do hospital em que Rafsanjani morreu e a pivot da televisão deu a notícia da sua morte com voz trémula. Um jovem questionado pela BBC sobre se estava de luto respondeu que não. “Mas estou receoso do que virá a seguir.” <_o3a_p>

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