Bater na mesma tecla

Todas estas restrições aos direitos das mulheres tornam-nas seres de segunda classe. Sendo assim, onde está o choque dessas almas aturdidas com estas ignomínias em pleno século XXI?

No meu texto sobre como entende a investigadora kuweitiana que é lícito ao marido bater nas mulheres desde que não deixasse marcas negras ou vermelhas e estivesse convencido que tal corretivo iria levar a mulher ao bom caminho…Esta era a notícia. Fazia referência a um painel de cientistas sauditas e das suas decisões acerca da natureza da mulher.

O texto que me chegou às mãos de vários lados tinha ainda depoimentos da porta-voz da Amnistia Internacional, Julie Cousteau, e da porta-voz da Mulher Libertação-Ação, Colette Turcotte, e ainda de Julien Poireau, um especialista do Médio-Oriente.

A base do meu texto era a defesa por uma mulher investigadora do ato do marido poder bater na mulher nas condições supra referidas. Como há meses tinha lido os comentários das personalidades acima referidas limitei-me a fazer menção do facto.

Mas é também por honestidade intelectual que devo acrescentar algumas verdades que me levaram ao texto.Em primeiro lugar, na Arábia Saudita, as mulheres não podem sair sem a permissão de um homem. As mulheres são, por isso, consideradas incapazes de se poderem deslocar sós, isto é, não têm direito a circular no seu país livremente. Só o podem fazer com o consentimento dos familiares masculinos. Um jovem pode sair à rua, mas a mãe não.

Bem vistas as coisas, os animais de companhia também não podem sair sem haver quem os guarde e os não deixe fazer mal. Uma cabra ou um dromedário precisa que o dono os acompanhe para não fazerem mal …a situação não será totalmente idêntica, mas as mulheres não podem sair sozinhas… as razões serão diferentes, mas não podem andar na rua por sua livre vontade.

Em segundo lugar, as mulheres não podem conduzir, só movimentar-se de carro se tiverem um homem como motorista. Altos dignitários religiosos defenderam que tal medida se justificava para não prejudicar a saúde das mulheres. As mulheres podiam danificar os ovários…que se encontram no interior do corpo resguardados ao contrário dos testículos que estão no exterior do corpo.

Talvez aquelas altas individualidades não façam ideia nenhuma do corpo da mulher, dada a natureza tentadora das mesmas e, portanto, confundam a localização dos ovários com outros órgãos das mulheres, esses sim do lado de fora…Fácil é também ver que as mulheres muito ricas podem ter motorista e deslocarem-se; as outras não se podem deslocar e terão de se manter no serralho dos homens seus senhores e donos.

Em terceiro lugar, as mulheres só podem ser examinadas quando estão doentes por outras mulheres médicas; se forem médicos, só na presença de um homem… uma situação de profunda desigualdade no acesso à saúde entre homens e mulheres.

Em quarto lugar só em dezembro de 2015 as mulheres puderam votar e ser eleitas para os municípios, mas não se podem dirigir aos homens, salvo os da sua família e não podem ter cartazes com a sua cara. Não podem votar nos mesmos locais dos homens que tiveram à sua disposição 1263 assembleias e as mulheres 424.

Em quinto lugar, as mulheres não se podem vestir como querem têm de usar a abaya, um vestido que lhes cobre o corpo todo.

Por último nas escolas as jovens mulheres não podem ter aulas de Educação Física …

Todas estas restrições aos direitos das mulheres tornam-nas seres de segunda classe.

Sendo assim, onde está o choque dessas almas aturdidas com estas ignomínias em pleno século XXI?

 

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