Mete-se o Natal

Um amigo meu, a quem roubei esta crónica, pediu para lhe colocarem uma janela no dia 2 deste mês. Disseram-lhe que esperasse porque “entretanto, mete-se o Natal.”

É notoriamente metediço o nosso Natal. “Mete-se o Natal” até pode ter um significado místico como “a gente sabe lá o que vai acontecer antes e depois de nascer o menino Jesus…não combinemos nada antes de 2017, que tem a vantagem de ter 300 rechonchudos dias, descontando os 65 dias em que o Natal, guloso, sempre à espreita, se irá meter. Por onde se mete o Natal? Por toda a parte. O Natal é como o caruncho. Faz cair calendários inteiros, roídos por dentro.

O Natal é no domingo. De segunda dia 26 até sexta dia 30 há uma semana inteira de 5 dias úteis - mesmo depois do Natal se ter metido. Depois mete-se o Ano Novo. É outro domingo. E o segundo dia do ano novo é dia 2, mais uma segunda com mais quatro dias úteis à frente.

Mas que importa essa ingénua contabilidade? O Natal não é um dia. Não é uma época. É uma quadra. Uma quadra são quatro meses que vão de Outubro, quando começa a aparecer o pai Natal nas lojas, até Janeiro em que há os saldos, as trocas, o dia de reis. É este o Natal que se mete. É maior que uma estação do ano, que só tem três meses. É uma orca assassina que nos está a marrar no casco do nosso barco, impedindo-nos de seguir o rumo desejado.

“OK”, rende-se o meu amigo, “o Natal está metido. Considere-o metido para todos os efeitos. E agora o que é que eu faço?” “Falamos para o ano” é a resposta que lhe dão.

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