É uma folha artificial que copia a natureza e fabrica medicamentos

Protótipo apresentado em artigo científico.

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O protótipo copiou de propósito a forma de uma folha Bart van Overbeeke
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O dispositovo criado pela equipa holandesa Bart van Overbeeke

Uma equipa de cientistas holandeses desenvolveu uma folha artificial que funciona como uma mini-fábrica de medicamentos, um avanço que permitirá produzir fármacos onde quer que exista luz solar.

Este trabalho explora a capacidade de as plantas usarem a luz do Sol para se alimentarem através da fotossíntese, o que tem sido difícil de replicar pelos químicos industriais, porque geralmente a luz solar gera pouca energia para iniciar reacções químicas.

A mini-fábrica inspirada nas folhas imita a eficiência da natureza ao captar a radiação solar usando novos materiais chamados “concentradores solares luminescentes”, que têm canais muito finos, através dos quais se bombeia um líquido, expondo assim moléculas sensíveis à luz solar. “Teoricamente, pode-se usar este dispositivo para produzir compostos de medicamentos usando a luz solar em qualquer sítio que se queira”, disse o coordenador da equipa, Timothy Noël, da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda.

Uma vez que este aparelho não necessita da existência de uma rede eléctrica, um dia será possível produzir medicamentos no meio da floresta, por exemplo para a malária, ou até mesmo em Marte nalguma colónia espacial do futuro, acredita o investigador.

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O investigador Timothy Noël Jim Drury/Reuters

Feito de silicone, o dispositivo consegue funcionar mesmo quando a luz é difusa, o que significa que trabalha até quando o céu está nublado. “Num dia nublado, uma experiência demonstrou que a produção química era 40% mais alta do que uma experiência similar sem materiais com concentradores solares luminescentes”, refere Timothy Noël, citado num comunicado da sua universidade. “Ainda temos muitas possibilidades de melhoria. Temos agora uma ferramenta ao nosso dispor que permite uma produção sustentável baseada na luz solar de substâncias químicas, como medicamentos ou agentes de protecção de colheitas.”

Será também necessário fabricar o dispositivo em grandes quantidades, para o tornar viável do ponto de vista comercial. Timothy Noël e os colegas, que publicaram esta quarta-feira a sua investigação na revista Angewandte Chemie, estão agora a tentar melhorar a eficiência energética e os resultados do dispositivo.

Como a folha artificial tem microcanais que põem substâncias químicas em contacto directo com a luz solar, cada unidade tem de ser pequena – mas poderão ligar-se várias para aumentar a produção. “Podemos fazer uma árvore inteira, com muitas folhas diferentes colocadas em paralelo”, disse à agência Reuters Timothy Noël. “É muito barato produzir estas coisas, por isso têm muitas potencialidades.”

O investigador pensa que este processo pode tornar-se largamente acessível aos engenheiros químicos dentro de cinco a dez anos. Já não é a primeira vez que os cientistas se inspiram em plantas para fabricarem substâncias farmacêuticas. Em 2012, a Food and Drug Administration (FDA), a agência norte-americana que regula os medicamentos e alimentos, aprovou o fármaco Elelyso, da Pfizer e Protalix Biotherapeutics, para a doença de Gaucher, um problema genético raro, usando células células de cenoura geneticamente modificadas para o fabricar. Outros investigadores também estão a cultivar plantas criadas de propósito para produzirem medicamentos e vacinas nas suas folhas.

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