Doentes estiveram dois dias sem comer, diz bastonária dos enfermeiros

Bastonária dos enfermeiros e bastonário dos médicos denunciaram carências no SNS.

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Ana Rita Cavaco escusou-se a identificar o hospital em causa, alegando que aguarda uma resposta do conselho de administração da instituição Enric Vives-Rubio

Vários doentes estiveram dois dias sem comer e sem ser medicados num hospital público, revelou a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, durante um debate na Ordem dos Médicos (OM), no Porto. Sem adiantar de que hospital se trata, Ana Rita Cavaco especificou que este caso aconteceu “nos últimos dias” devido à grande procura do serviço de urgência que obrigou a criar espaços para internar doentes, sem o necessário reforço de profissionais de saúde.

A denúncia foi feita na segunda-feira à noite, durante um debate sobre a situação que se vive no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e em que participou também o bastonário da OM, José Manuel Silva.

Ana Rita Cavaco escusou-se a identificar o hospital em causa, alegando que aguarda uma resposta do conselho de administração da instituição, que já foi inquirido a este respeito. “Devido à afluência muito grande à urgência, põem-se 40 ou 50 doentes num espaço para 20, abrem-se espaços por causa da pressão da opinião pública, sem medicamentos, nem alimentos, nem nada. Temos relatos de profissionais que falam em doentes que estiveram dois dias sem comer”, disse mais tarde ao PÚBLICO, que a instou a concretizar a denúncia. “Podem acusar-me de ser alarmista, mas enquanto não tivermos dispostos a dizer a verdade, não vamos a lado nenhum”, acrescentou.

Antes, o presidente da secção regional do Norte da OM, Miguel Guimarães, já tinha traçado um quadro negro da situação que se vive actualmente no SNS. "O SNS está numa rampa deslizante há anos", defendeu o médico que diz que a maior parte dos hospitais estão a trabalhar com equipamentos ultrapassados e que necessitam urgentemente de ser renovados.

Ao PÚBLICO precisou depois que se referia a equipamentos de TAC (tomografia axial computorizada), radioterapia, ressonância magnética, entre outros. Destacou o caso dos aparelhos de TAC, explicando que os de última geração emitem menos radiação e, no caso de doentes que necessitam de fazer vários exames deste tipo, faz sentido usar apenas os mais recentes. O problema é que, acrescentou, vários hospitais centrais não têm TAC de última geração em Portugal, o que é "inconcebível". 

Miguel Guimarães, que é candidato a bastonário da OM, adiantou ainda que tenciona fazer em 2017 um "livro ou relatório branco" em que serão identificadas todas as carências das unidades do SNS. Comentando esta intenção, o actual bastonário, José Miguel Silva, afirmou que seria mais apropriado chamar a este documento "livro amarelo ou negro", tal tem sido "a degradação contínua do SNS".

O CDS-PP pediu entretanto a audição de Ana Rita Cavaco, para esclarecer as suas afirmações sobre a ausência de alimentação e medicação a doentes de um hospital público.

"A confirmar-se esta denúncia, o grupo parlamentar do CDS-PP entende que estamos perante uma situação gravíssima que urge clarificar e esclarecer cabalmente", afirma a deputada centrista na comissão parlamentar de Saúde Isabel Galriça Neto, cita pela Lusa.

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