Igreja lança primeiro gabinete de escuta

Serviço arranca em Lisboa e poderá depois replicar-se noutras zonas do país.

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É preciso marcar previamente o serviço, por telefone ou email Daniel Rocha

A necessidade de falar e ser ouvido pode ter inúmeros gatilhos (porque morreu um familiar, porque há alguém doente, porque se atravessa um divórcio ou de repente se perde o sentido da vida). E o que a Igreja Católica promete é ter alguém “disponível para ouvir as pessoas, sem qualquer preconceito”, como garante o padre Fernando Sampaio, coordenador nacional das capelanias hospitalares e responsável pelo GEscuta, o primeiro gabinete de escuta da Igreja Católica, que é lançado no dia 25, em Lisboa.

Com este serviço, a Igreja não pretende concorrer com psicólogos ou psiquiatras. “O GEscuta não pretende fazer seguimento das pessoas. O máximo de encontros serão três e, se as pessoas apresentarem problemas que requeiram acompanhamento, serão encaminhadas para os técnicos de saúde”, explica Fernando Sampaio, para quem a Igreja Católica procura apenas dar seguimento prático ao apelo do Papa Francisco quando este lembrou a importância de saber escutar.

Ao PÚBLICO, o presidente da Ordem dos Psicólogos, Telmo Baptista, considerou que “há todo o espaço para um acolhimento com uma dimensão espiritual". "Se, ainda por cima", acrescentou, "esse serviço promete fazer o reencaminhamento [para os serviços de saúde] das pessoas que precisem, é uma boa prática”, até porque "há dimensões espirituais no sofrimento e há pessoas que preferem essa dimensão".

O GEscusta vai funcionar na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, e, antes de lá chegarem, as pessoas devem marcar previamente  (213 560 619 ou gescuta@gmail.com) com os responsáveis do gabinete que, nesta primeira fase, irá funcionar com dois padres e dois assistentes espirituais, todos com formação. “A directora do gabinete é uma psiquiatra, eu sou psicólogo e os restantes elementos fizeram formação em pastoral da saúde. A ideia é que todos possamos ouvir as pessoas dizer aquilo que lhes vai dentro e fazerem a sua narrativa de sofrimento, fazer com que se sintam acompanhadas e compreendidas”, acrescenta Fernando Sampaio.

Inspirado no centro de escuta que a Igreja Católica tem há muitos anos a funcionar em Madrid, Espanha, este gabinete poderá mais tarde ser reforçado em termos de pessoal e replicado noutras zonas do país. “Há colegas interessados, inclusivamente em Fátima”, enfatiza aquele responsável, sublinhando que, entre os direitos da pessoa que recorre ao serviço, está a confidencialidade de tudo quanto possa ser dito e a garantia de que será tratada sem qualquer tipo de discriminação, seja qual for “a sua ideologia política ou credo religioso”.

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