Filho de Paula Rego filma os segredos da mãe

O filme de Nick Willing estreia na BBC em Março e logo a seguir estreará em Portugal. Ao mesmo tempo, na Casa das Histórias, em Cascais, inaugurará uma exposição que será a materialização do filme, com fotos, documentos, cadernos com desenhos de infância, excertos de filmes antigos.

Foto
O filme sobre Paula tem estreia prevista na BBC em Março e logo a seguir estreará em Portugal FOTO: RUI GAUDENCIO

Há dois anos, Nick Willing sentou-se com a mãe, a artista portuguesa Paula Rego, então com 80 anos, e ela começou a contar-lhe histórias. “Eram histórias que eu nunca tinha ouvido, que explicam muito da minha vida e da dela, de uma maneira que me fez entender várias das suas obras”, conta. Foi então que Nick, que é realizador de cinema, lhe fez uma proposta: “Vamos fazer o filme que eu sempre quis fazer”. Ela disse que sim.

O filme de Nick sobre Paula está pronto há seis meses, tem estreia prevista na BBC em Março (daí que seja falado em inglês) e logo a seguir estreará em Portugal. Ao mesmo tempo, na Casa das Histórias, o museu de Paula Rego em Cascais, inaugurará uma exposição que, segundo Catarina Alfaro, curadora ao lado de Nick Willing, será a materialização do filme, com fotografias, documentos, cadernos com desenhos de infância, excertos de filmes antigos, elementos essenciais para ser perceber como a vida de Paula sempre se misturou com a sua obra. Haverá ainda obras do próprio Nick e um espaço dedicado ao marido de Paula Rego, o pintor Victor Willing (pai de Nick), que morreu em 1988.

“O meu filme não é sobre a artista, é sobre a pessoa”, diz Nick. “O que acontece é que ela foi sempre artista primeiro, pessoa depois e mãe em terceiro. Eu queria descobrir a pessoa por trás da pintora”. Conta que a mãe “foi sempre um grande mistério” e que, quando na tal conversa há dois anos ela abriu uma porta para o seu mundo, ele aproveitou para fazer todas as perguntas que guardava há muito.

E, afinal, este é um filme que começou há várias décadas, mais exactamente em 1976 quando Nick pegou na velha máquina de filmar do avô que encontrara na casa da família na Ericeira. O pai de Paula – figura fundamental na vida da artista – era um realizador amador, além de ter um pequeno cinema “onde mostrava filmes do Bucha e Estica ou de Chaplin”. Durante a infância de Paula, o pai filmou muita coisa. Esses filmes, que iniciam toda esta história, foram depois continuados por Nick nos anos 70. “A coisa que a minha mãe mais gosta no mundo, até mais do que de pintura, são filmes.”

Mas não é apenas de imagens antigas que é feita o documetário de Nick. “Passei muitos dias no estúdio dela filmando-a a pintar. Foi uma grande emoção. Quando era pequeno, ela e o meu pai tinham um estúdio onde eu estava proibido de entrar. Agora que sou um homem com 50 e tal anos, já consegui lá entrar.”

Foi, para Nick, finalmente a chegada ao mundo dos segredos da mãe. Parou todos os outros projectos que tinha para se dedicar a este e passou todos os sábados a conversar com Paula. “Ela sempre foi uma pessoa muito privada. Acha que os segredos só têm poder quando são mesmo segredos e usa-os para o seu trabalho. Sempre foi assim.”

Por isso, apesar de terem uma ligação muito forte – “a coisa mais importante entre nós é que, desde que eu era pequeno, desenhávamos juntos” – só agora os segredos foram revelados. “Não vou estragar a surpresa do filme, mas percebe-se muito melhor a relação entre a história da vida dela e as obras que fez.” No final, quando mostrou o filme à mãe, “ela ficou o tempo todo com um sorriso”.

Sugerir correcção
Comentar