Artistas nacionais e estrangeiros enchem de cor a cidade de Estarreja

Festival de arte urbana (ESTAU) já começou e prolonga-se até ao próximo domingo. Evento aposta forte na participação da comunidade local.

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A obra de Kruella D’Enfer Nelson Garrido
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Kruella D’Enfer Nelson Garrido

Longe vai o tempo em que a população olhava com desconfiança para os artistas que davam libre expressão à criatividade, pintando e desenhando em muros e paredes do espaço público. A arte urbana está, agora, na moda e começa, cada vez mais, a ser um ponto de interesse nas cidades. Até mesmo nas mais pequenas, como é o caso de Estarreja, na região de Aveiro, que, por estes dias, se transformou numa verdadeira capital da arte urbana.

Vários artistas nacionais e estrangeiros aceitaram o desafio da câmara municipal e, até ao próximo domingo, dia 18, estão a dar um novo colorido à cidade, no âmbito daquela que é a primeira edição do Estau – Estarreja Arte Urbana. Um festival que aposta forte na participação e no envolvimento da comunidade local – a população é chamada a participar nas mais de 30 actividades previstas.

A ideia passa por transformar a cidade num “museu ao ar livre”, criando um circuito de arte urbana – que já teve o seu início, no ano passado, com a criação da instalação Guarda-Rios, de Bordalo II. Com este festival, Estarreja irá ganhar sete murais artísticos – um dos quais com mais de 600 metros quadrados de área –, assinados por outros tantos artistas urbanos, e sempre sob o olhar atento da população.

“Os habitantes aparecem e fazem comentários positivos. E até houve um senhor que veio trazer-me pastéis”, assegura a artista portuguesa Kruella D’Enfer, que assina aquele que será o primeiro mural do Estau a ficar concluído. “Este é talvez dos sítios em que já estive a trabalhar onde a população é mais receptiva”, afiança. E, nem de propósito, enquanto conversa com o PÚBLICO é abordada por duas senhoras que passam junto à parede na qual está a trabalhar (na Avenida 25 de Abril). “O que representa esta figura que está aí a pintar?” – perguntam-lhe. Kruella D’Enfer não se mostra importunada com a questão. Muito pelo contrário. De forma simples, tenta explicar que o seu mural retrata um rosto feminino ao qual decidiu juntar vários elementos arte nova, uma corrente arquitectónica fortemente presente na região. “Está a ficar bonito”, diz-lhe uma das senhoras, já depois de ter ouvido a explicação.

Vários artistas a trabalhar ao vivo

Além de Kruella D’Enfer, outros artistas irão estar, por estes dias, a trabalhar ao vivo em Estarreja: o australiano Fintan Magee, os brasileiros Bicicleta sem Freio, a polaca Nespoon, o argentino Bosoletti, o espanhol Isaac Cordal e os portugueses Hazul, Samina e Add Fuel. Todos eles irão deixar a sua assinatura nas ruas e edifícios da terra. E, acima de tudo, participarão nas várias actividades previstas no programa do Estau, nomeadamente nos vários workshops, exibição de filmes, visitas guiadas, espectáculos e conversas com artistas.

“Não há muitos festivais em Portugal com esta dimensão e programas tão abrangentes”, salienta Lara Seixo Rodrigues, directora artística do evento que prevê várias performances inéditas. Uma delas acontece na próxima quinta-feira, pelas 21h30 horas, na zona do Quarteirão Norte. “Será um concerto de Filho da Mãe, que acontece ao mesmo tempo que Cláudia Guerreiro ilustrará uma parede. A Cláudia é conhecida por ser baixista dos Linda Martini e, muito embora muitos desconheçam, é também ilustradora. Vai ser interessante vê-la a trabalhar ao vivo, ao som da música de Rui Carvalho”, diz Lara Seixo Rodrigues.  

A programação dá ainda lugar de destaque a alguns músicos e grupos locais, como os Tritono (que actuam no dia 16, junto ao mural assinado por Kruella D’Enfer), os Quadrângulo e os Otorrino (dia 17, em vários locais da cidade). Previstas estão também exibições de filmes internacionais que têm como pano de fundo o tema da arte urbana: Graffiti Grandmas (Noruega, 2016) e Sky’s the Limit (França, 2016) são duas das películas que serão apresentadas no Cine-Teatro de Estarreja.

Outra das apostas do Estau assenta em três residências artísticas: uma de vídeo, com André C. Santos; uma de fotografia, com Miguel Oliveira; e uma de tecelagem – esta última junta a marca GUR (criada pela designer Célia Esteves) e os artesãos da Casa do Tear (de Pardilhó, Estarreja), que estão a criar um tapete com base num desenho do artista urbano Samina.  

Para os próximos dias estão também previstos vários workshops para diferentes públicos. “Um deles, por exemplo, é dirigido a pessoas com mais de 65 anos, que terão a oportunidade de fazer arte urbana no espaço público. É muito importante envolver esta faixa da população, dando-lhes a conhecer o que é esta arte”, nota ainda a directora artística do Estau. 

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