O estado absurdo de Portugal. The Man (pt. 2)

Se na primeira parte deste texto contávamos o porquê do nome Portugal. The Man (atenção ao ponto final no meio: P.TM) e de como esta banda se fez notar com um videoclipe ousado e extraordinário, colaborando com o diretor de fotografia Michael Ragen, agora começamos por explicar que foi através deste que eles vieram depois a conhecer um dos mais ousados e extraordinários realizadores de videoclipes da atualidade. AG Rojas não é, ainda, daqueles nomes estrela no setor, como o são Michel Gondry, Romain Gravas, ou os coletivos Megaforce, CANADA, entre outros que marcam a diferença ao assinarem obras que o mundo inteiro identifica, tanto quanto se espanta e partilha. Fora a polémica, é mais pelo incómodo que os seus geram repercussão. Apesar de inegáveis peças artísticas de um olhar marcadamente documentarista (mesmo em ficções), ainda que estilizado pelo formato videomusical. Quer sejam imagens “lo-fi”, quer “hi-def”, são como versos de poesia visual, embora crua, realista, tortuosa, enfim, absurda. Porque parecem inimagináveis as personagens bizarras da América profunda que os seus videoclipes apresentam numa espécie de rap visual. Para o tema dos P.TM, do álbum “Evil Friends” de 2013, traça um assombroso retrato sociológico naquele caldinho cultural americano: os estados conhecidos como as regiões do “Bible Belt” (Cinturão da Bíblia) e do “Jell-O Belt” (Corredor Mormon), daí a quantidade de símbolos religiosos cristãos. Filmado em 20 dias e em 15 estados, o realizador procurou representar, no seu estilo, as ideias que os P.TM já afirmavam publicamente sobre o uso corrompido de Jesus nos tempos modernos. “Modern Jesus”, mais do que vincar uma posição já conhecia deles — afirmam-se ateus — é um tema que carimba, em letra e música, as suas conhecidas críticas à forma como a religião é instrumentalizada, assim como metaforiza visualmente o estado absurdo a que isto chegou. Isto, o que pode explicar o absurdo de uma personagem como Trump estar tão próximo da Casa Branca. Bem, resta dizer que o charme pop da canção muito se deve ao conceituado produtor Danger Mouse que lhes moldou o som do referido último álbum, do qual deverá incidir o concerto deste dia 20 de agosto, sábado e último dia do Vodafone Paredes de Coura.

 

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.