O "milagre" da agricultura no betão de Caracas

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O presidente Maduro disse aos venezuelanos: "precisamos de plantar para assegurar a soberania alimentar". "Aquele que aprende a cultivar na sua cidade, na sua escola, universidade, espaços comuns, cultiva uma outra forma de fé na vida". E o milagre deu-se: entre o betão de Caracas começaram a surgir pequenas hortas e espaços verdes. Encorajar os venezuelanos a produzir comida em zonas urbanas é uma medida oficial do governo, inserida no programa "Gran Misión AgroVenezuela". O objectivo de Maduro é colmatar a escassez de alimentos no país e, desse modo, recuperar a estabilidade social e política que perdeu nos últimos meses. Os primeiros dados do governo apontam para um aumento de produção de 273 toneladas de vegetais, frutas e plantas aromáticas, em contexto urbano. A oposição política interna de Maduro vê a medida como risível e desadequada dada escala do problema que se vive actualmente. "Há quartenta mil hectares de terra cultivável neste país, e a solução de Nicolás é a agricultura urbana!", ironiza Henrique Capriles, o principal opositor do presidente venezuelano. "Ouvindo-o percebemos que a sua visão tem um século de atraso." Omar Sharam, dono do restaurante "Casa Bistro", no centro de Caracas, acredita que "é ilógico ter um grande plano de agricultura urbana tendo em conta quão fértil é a terra na Venezuela". O empresário cultiva alguns dos alimentos que serve no seu restaurante no centro de Caracas, mas acredita ser um esforço residual e que com ele os venezuelanos não comerão "mais", mas sim "melhor". À medida que o petróleo foi ganhando protagonismo na economia venezuelana - de há um século a esta parte - outros sectores foram perdendo relevância, nomeadamente o da agricultura. Actualmente, a venda de petróleo representa 94% das receitas de exportação e a negligência do sector agrícola obriga o país a importar alimentos. Este desequilíbrio deixa os 30 milhões de cidadãos venezuelanos à beira do motim. O modelo da "Grande Missão AgroVenezuela" foi primeiramente implementado em Cuba, após o chamado Período Especial, que teve início em 1991, ano da queda do seu principal aliado contra os Estados Unidos, a União Soviética. Havana é, desde então, apelidada de "a cidade mais verde da América Latina" pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Ana Marques Maia