Cinco portugueses para descobrir no Milhões de Festa

Ir ao Milhões também é um convite para partir à descoberta. É um dos seus encantos: viajar de concerto em concerto, de som em som, e assim dar de caras com uma mão cheia de talentos até aí desconhecidos. Este ano — bom sinal! —, há muitos portugueses para espreitar. Escolhemos cinco nomes que te podem surpreender, se é que ainda não o fizeram

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Nídia Minaj

Do afro-house ao kuduro, passando pelo tarraxo, pelo house, pelo techno. Nídia Minaj é tudo isto e mais. É dona e senhora de um som só seu, que chega até nós com o selo de qualidade Príncipe Discos, editora que tem apresentado ao universo a música de dança que está em ebulição nos subúrbios de Lisboa. Quando não está a fazer batidas, Nídia (que adoptou o Minaj da sua "diva", Nicki Minaj) está a pensar nelas, como contava ao PÚBLICO em entrevista em Março. E isso nota-se. Num circuito particularmente masculino, como é a electrónica, a DJ/produtora de 18 anos sobressai e impressiona. "Danger", o seu cartão de visita, é um convite à dança, à festa, a um mundo em efervescência.

A não perder: dia 24, pelas 3h20, no Palco Lovers.

Quelle Dead Gazelle

A fórmula é simples: uma guitarra, uma bateria e dois tipos, Miguel Abelaira e Pedro Ferreira. Eis os Quelle Dead Gazelle, duo instrumental que regressa este ano ao Milhões pela mão dos Riding Pânico em modo curadores — e isso já significa que há que estar atento a estes meninos. Formados há quatro anos, tornaram-se em 2013 na primeira banda instrumental a vencer o Festival Termómetro. Desde aí, lançaram um EP e, em Maio deste ano, o álbum de estreia: "Maus Lençóis", trabalho nascido no HAUS, em que as irrequietas gazelas voltam a contar com o toque de midas na produção de Makoto Yagyu e Fábio Jevelim. André Henriques, vocalista dos Linda Martini, faz o resumo num comunicado de imprensa enviado ao P3: "As canções, se é que assim lhes podemos chamar, estão mais negras e são capazes de nos pôr em bicos de pés a tentar adivinhar o que se segue. Mas nunca nos dão o que estamos à espera e deixam-nos os dedos sem unhas, roídos até ao osso. E há sempre um balanço, como se bêbados tentassem sentir o chão e este lhes fugisse sempre em contratempo." Basta ouvir o primeiro single, "Pedra-Pomes" (com vídeo gravado nos Passadiços do Paiva) a apontar directamente à moção em desequilíbrio.

Para ver dia 23, às 18h15, no Palco Taina.

Surma

Tem 21 anos e um futuro promissor pela frente, a avaliar pela primeira amostra musical, mas também por todo o burburinho provoca por onde quer que passa. Surma é Débora Umbelino, leiriense a viver em Lisboa há quatro anos, quando se mudou para a capital para estudar voz e contrabaixo no Hot Clube de Portugal. Neste alter-ego musical, que foi buscar o nome à Etiópia, é tudo numa só: domina teclas, "samplers", cordas, vozes e "loop stations", assinando uma electrónica etérea, com influências jazz, post-rock, ambiente e até noise. A Omnichord Records já a apanhou e promete um álbum este Inverno. Entretanto, há "Maasai", o primeiro avanço, que também adopta o nome de uma outra tribo, que conta com produção de Emanuel Botelho (ex-Sensible Soccers) e mistura e masterização de Paulo Mouta Pereira (produtor dos Les Crazy Coconuts e músico de David Fonseca). E há muitos concertos para espreitar, como o de dia 22, às 14h30, na Piscina.

Ghost Hunt

Formados no ano passado, os Ghost Hunt são um duo composto por Pedro Chau, baixista da banda punk The Parkinsons, e Pedro Oliveira, ex-Monomoy. Têm três músicas cá fora ("Shallow End", "Space Race" e "Port Cities") e um terreno por desvendar. Tudo se resume a baixo, guitarra e sintetizadores: eis o que é preciso para um som cheio, algo cósmico, que tanto nos leva ao krautrock e a alguns dos seus seus seminais embaixadores (com Kraftwerk e Neu! à cabeça), como nos atira para um concertaço rock de guitarras, repleto de descargas de adrenalina, feito passo a passo, camada a camada, em constante viagem. Não é por acaso que entre "o arsenal de correntes estéticas" que os formou estejam "o som 'shoegazer', a techno de Detroit, o acid, o electro industrial, o synthpop, e, lá mais para trás, as primeiras bandas de heavy metal, o punk, o rock psicadélico, o garage rock", como elenca o crítico Rui Catalão num texto de apresentação da página de Facebook do duo. Mas, conclui, todas estas influências "na praia Ghost Hunt" dissolvem-se "em rochas sedimentares e areia muito fina". Aqui, a "música está nas ondas", na "zona de rebentação".

Para enfrentar dia 24, pelas 14h30 na Piscina.

Mada Treku

Mada Treku é Nuno Loureiro, produtor do Porto que em Abril lançou o seu EP de estreia, "Learning Exercises On How To Move On", com o carimbo de qualidade Favela Discos. Reza a história que o disco surge da vontade de interpretar a personagem principal do filme "Millenium Mambo", de Hou Hasiao Hsien — "Qishu", o "coração do álbum", adoptou o nome da actriz que a interpreta. É música de dança, sim, mas sem paninhos quentes. Uma viagem a um techno denso, obscuro, hipnótico e desafiante. Para entrar em transe dia 21, às 19h, no Palco Taina.

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