Iñárritu, Michael Haneke e companhia invadem esta noite a casa de Bergman

Scorsese, Woody Allen, Isabela Rossellini e Von Trier são outros dos protagonistas do documentário Bergman Invadido que reúne realizadores e actores com o cineasta dos cineastas. Hoje na RTP2, às 23h45.

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A sala de cinema de Bergman DR
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Nesta fotografia de 1972, Bergman (à esq.) recebe na sua casa da ilha o também realizador sueco Sven Nykvist (ao centro) e os actores Erland Josephson e Liv Ullman AFP
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O cineasta Michael Haneke sentado numa das poltronas do realizador sueco, falando no documentário que passa esta segunda-feira na RTP2

A aura e a obra do realizador sueco tornou a sua casa numa espécie de terreno mistificador, um terreiro de reverência que o documentário que esta segunda-feira é exibido na RTP2 apresenta como um Bergman Invadido. São perto de duas horas de visitas e comentários e alguma bisbilhotice. O mestre tinha Assalto ao Arranha-Céus, Cocoon ou Emmanuelle na sua colecção de filmes; via três por dia sempre que não estava em rodagem; classificava-os com estrelas, nomeadamente títulos de autores que visitam agora a sua casa-museu.

A visita à casa de Bergman, na remota ilha sueca de Fårö, é a premissa para um documentário que, depois de cumprido o circuito de festivais há um par de anos – esteve em Veneza em 2013 e no IndieLisboa em 2014, por exemplo – chega à televisão com nomes de peso a bordo. Mas entretanto, o crítico Stephen Farber bem assinalava, a partir do Festival de Palm Springs, que Trespassing Bergman (título original) terá um apelo limitado fora dos festivais de cinema e da televisão pública. O documentário, na verdade, tem origem numa série de TV de seis episódios sobre os temas do cinema de Bergman. E aqui, o que encontramos? Bergman a referência inatacável ou Bergman a vaca sagrada que pode ser criticada?

Michael Haneke, Woody Allen, Robert De Niro, Martin Scorsese, John Landis, Alejandro G. Iñárritu, Claire Denis, Wes Craven, Wes Anderson, Takeshi Kitano, Ang Lee, Isabella Rossellini, Alexander Payne, Pernilla August ou Zhang Yimou vêm falar sobre o autor de O Sétimo Selo (filme que Payne não considera bem conseguido, por exemplo, num desses momentos de dessacralização) na casa do realizador dos realizadores.

Embora alguns realizadores não tenham conseguido fazer a visita, outros, quando lá chegaram, equipararam-na a uma peregrinação a Meca ou ao Vaticano (Iñárritu). Houve até quem sentisse as pernas a vacilar (Denis). Vasculharam-lhe a biblioteca e a filmoteca, descobrindo filmes variados. Um dos que é entrevistado fora de Fårö entretém-se a reflectir sobre os supostos hábitos onanistas do realizador - Lars von Trier. Que também se revela talvez um dos seus mais dedicados admiradores. Poucos trabalharam ou conheceram de facto Bergman, mas os que o fizeram, como Allen ou Lee, ou Rossellini, que fala sobre a relação da mãe com o autor do seu último filme, contam histórias ou mostram imagens desses encontros - conte-se com alguma pungência.

Realizado por Jane Magnusson e Hynek Pallas, que vêm da crítica e da investigação na área do cinema, inclui alguns excertos de filmes de Bergman entrecruzados com a sua biografia. O filme que se debruça sobre a cinefilia dos cineastas mostra ainda imagens até então inéditas dos bastidores das rodagens do autor de Fanny e Alexander ou Mónica e o Desejo, que morreu em 2007. 

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