Manual de sentimentalismo

Aqui, em Pais e Filhas, custa decidir quais são os clichés maiores.

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Pais e Filhas, melodrama estereotipado

Já sabíamos que Gabriele Muccino tem uma propensão extrema para o cliché sentimental-existencial: afinal, foi a bater nessa tecla que conseguiu (com o O Último Beijo, no princípio da década passada) o passaporte que o levou do cinema italiano para o cinema de Hollywood. Pais e Filhas, melodrama estereotipado com todo o carinho, é mais do mesmo, agora com um inusitado (e francamente ridículo de tão básico e simplista) toque psicanalítico. E custa decidir qual é o cliché maior: se a personagem de Russell Crowe, escritor atormentado (mas supostamente brilhante, até tem um Pulitzer e tudo) pela morte da mulher num acidente de automóvel e ferido por um sentimento de culpa que o faz entrar em colapso mental, se a personagem da filha, que em adulta (quando é interpretada por Amanda Seyfried) se tornou assistente social especializada em crianças traumatizadas.

O filme avança em dois tempos, flash-backs e flash-forwards a sucederem-se sem nenhuma razão que não seja buscar o efeito emocional fácil, e sublinhar a linearidade de uma relação de causa e efeito. Para mais, Muccino dirige tudo com uma moleza bocejante, mas ainda mais pegajosa, no seu sentimentalismo de manual, do que bocejante. No caminho desperdiça até os actores, incluindo a cada vez mais rara Jane Fonda.

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