Espólio de Lorca classificado à pressa para evitar a sua saída de Espanha

Venda dos bens chegou a estar em cima da mesa para pagar dívidas da fundação com o nome do poeta, que deveria ter construído centro para albergar o seu legado em Granada.

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O espólio de Federico García Lorca (1898-1936) estava em risco de abandonar Espanha para ser vendido ou separado em parcelas para pagar dívidas da fundação que o gere mas, segundo avança esta segunda-feira o diário espanhol El País, a sua permanência no país de origem do poeta e dramaturgo está prestes a ser garantida. Trata-se de uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura espanhola que o jornal descreve como “drástica”.

Em causa estão mais de 19 mil documentos. Entre eles figuram 2.343 manuscritos, 46 desenhos originais e 900 imagens, além de partituras coleccionadas ou autografadas pelo autor, que era também compositor e pianista. Integram ainda o espólio a sua biblioteca pessoal, com cerca de 125 livros que lhe foram dedicados, e a sua correspondência. Lorca foi uma das figuras cimeiras do início do século XX espanhol e mundial e privou com Salvador Dalí ou Luís Buñuel, possuindo obras do pintor surrealista, bem como de muitos outros artistas.

Como conta o jornal, o caso que levou às ameaças de venda parcial ou integral do espólio do autor de A Casa de Bernarda Alba começou a delinear-se publicamente no Verão passado com denúncias de má gestão e falsificação de documentos do gestor da Fundación García Lorca. Problemas de financiamento da construção do Centro García Lorca, em Granada, e a vergonha pública pelo cancelamento da sua inauguração na data prevista, no dia de aniversário do poeta (5 de Junho), por dívidas à construtora, engrossariam a polémica.

Junta-se-lhe os ingrediente de que o promotor da obra era um consórcio formado pela fundação, pelo Ministério da Cultura espanhol, pela Junta de Andalucía e pelo Ayuntamiento e Diputación de Granada (respectivamente as autoridades regional, autárquica e uma estrutura de eleitos da região) que deveria cerca de três milhões de euros à construtora Ferrovial. Haveria ainda muitas dívidas e contas por pagar na fundação, sendo que países como a Islândia ou a Noruega tinham feito contributos de monta para o projecto do centro – estão preocupados com a polémica e o alegado desfalque que o envolve, mas segundo o jornal espanhol essa tranche de fundos foi gerida pelo consórcio público e estará por isso a salvo.

Contas feitas ao caso que parece quase ter perigado a permanência do espólio de Lorca em Espanha, estão “desaparecidos” 4,4 milhões de euros dos 27 milhões que o gestor Juan Tomás Martín teve nas mãos quando esteve no cargo, diz o conselho de gestão do consórcio. A fundação tem dívidas, escreve o El País, na ordem dos dez milhões de euros.

Agora, como deve ser oficializado nos próximos dias e já é, escreve o diário espanhol, do conhecimento da família de Lorca, todo o legado será classificado como Bem de Interesse Cultural, dando-lhe o “nível máximo de protecção”, segundo a presidente da Comunidade de Madrid, Cristina Cifuentes (PP), e ficará por isso impedido sair de Espanha. O processo de classificação demorou uma semana e foi encabeçado tanto pela Secretaria de Estado da Cultura quanto por Cifuentes. Ainda não é certo se o espólio permanecerá na cidade que actualmente o alberga – a capital espanhola, onde está depositado na Residencia de Estudiantes de Madrid – ou se se mantém a intenção de o depositar em Granada, cidade onde Lorca estudou Direito e onde morreu. Esta parece ser a possibilidade mais forte, noticia o El País

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