Em defesa dos Programas Nacionais - como parar a diabetes?

É da máxima importância que o Programa Nacional para a Diabetes prossiga as estratégias já iniciadas.

Um balanço necessário - A diabetes constitui hoje um dos maiores desafios da saúde pública. Só reconhecida pelas instâncias internacionais da saúde como epidemia nos finais do século XX, combina um conjunto de factores genéticos, comportamentais, sociais e ainda da vida intra-uterina, que apesar de toda a evolução científica dos últimos anos, está ainda muito longe da cura ou mesmo do controlo epidemiológico.

Foi com enorme dedicação que me envolvi nos últimos oito anos na criação de um verdadeiro programa integrado de prevenção e controlo da diabetes. Um programa que saiu da visão normativa e centralista do Ministério da Saúde/ Direção Geral de Saúde e que se associou aos profissionais no terreno, de uma forma estruturada, através de uma rede transdisciplinar de cuidados que ligou os vários níveis de prestação de cuidados às pessoas com diabetes, através das suas associações e das organizações nacionais que mobilizaram milhares de pessoas, e às comunidades, através da participação das autarquias e da sociedade civil no objetivo de lutar contra a progressão da diabetes.

É um programa com ganhos de saúde a curto prazo, mas muito maiores a longo prazo, como comprovam os indicadores nacionais de internamentos, complicações e de mortalidade. O programa soube colocar a diabetes no debate público, na agenda política (declarações no parlamento e  quatro resoluções aprovadas por unanimidade) e chamou à responsabilidade vários sectores da sociedade civil (por exemplo, a Associação Nacional de Municípios e a Fundação Calouste Gulbenkian, que aderiram ao primeiro programa de prevenção primária em Portugal).

É da máxima importância que o Programa Nacional para a Diabetes prossiga as estratégias já iniciadas. Reconhecido internacionalmente, nomeadamente no quadro da iniciativa da Joint Action, Chrodis, como um dos programas mais bem estruturados e desenvolvidos da União Europeia, exige-se que continue a pugnar pelos seus compromissos.

É amplamente reconhecido o impacto da diabetes na mortalidade e morbilidade em Portugal e a ameaça que representa para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, facto que exige a continuidade de respostas inovadoras e um processo colectivo de aprendizagem, com todos os profissionais que se dedicaram a este combate nos últimos anos. Agora que o programa do governo reconhece explicitamente a importância da prevenção e gestão da doença crónica, o programa da diabetes pode contribuir como exemplo do que se pode fazer em relação à doença crónica, como beneficiar de uma acção mais concertada neste domínio. Dirigentes e membros da SPD, da APDP, das UCFDs, das Associações, bem como milhares de pessoas com diabetes, foram a alma e o corpo dos sucessos dos últimos anos. O país não pode desistir do combate à diabetes, sob o risco de ficar subjugado por ela.

Director do Programa Nacional para a Diabetes

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