Segunda fase do projecto SAAL no Bairro da Maceda vai avançar

Câmara do Porto contratou Andrea Soutinho, filha do autor do projecto original, Alcino Soutinho, para concluir projecto comunitário de habitação em Campanhã.

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O bairro mudou e não há nenhuma coerência nos materiais usados Nelson Garrido
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A notícia já chegou a alguns moradores do Bairro da Maceda, em Campanhã. Passado mais de um ano desde que levantou a hipótese de concluir o projecto comunitário de habitação, a Câmara do Porto contratou a arquitecta Andrea Soutinho para levar a cabo a segunda fase do núcleo de casas projectado pelo pai, Alcino Soutinho, no âmbito do Serviço de Apoio Ambulatório Local, no pós-25 de Abril. Uma intervenção que incluirá a reabilitação do espaço público e do estreito acesso ao local.

Há muito que as 32 famílias que habitam nas casas do Bairro da Maceda esperam a reabilitação do complexo cuja construção começou em Novembro de 1975, poucos meses depois da constituição da Associação de Moradores. Foram estes quem construiu as 33 casas existentes, com a supervisão e apoio do SAAL. E foram estes que, ao longo dos anos, mantiveram os espaços, quotizando-se para o efeito. Mas a degradação é visível, e há componentes do projecto comunitário, como um segundo conjunto de 14 casas, uma loja e o arranjo de uma pequena praça, que nunca foram concretizados.

Pagas com acesso a um crédito bonificado do Fundo de Fomento da Habitação, as casas estão implantadas em terrenos municipais, e o direito sobre os mesmos nunca foi transmitido à Associação de moradores, e muito menos aos moradores em si, que detêm apenas o direito de uso e habitação, garantido por três gerações. E esta questão tem impedido o acesso de quem ali mora a crédito para obras nas residências, queixou-se António Lima, presidente da Assembleia-Geral da associação, no período destinado ao público da reunião de câmara desta terça-feira.

O vereador com o pelouro da Habitação, o socialista Manuel Pizarro, acabou por anunciar que o projecto para a conclusão do bairro e requalificação do existente foi entregue a Andrea Soutinho, que o desenvolveu, e já foi aprovado pelos serviços de Urbanismo do município a 4 de Março. Pizarro explicou ainda que a vereadora da mobilidade, Cristina Pimentel, vai contratar um projectista para trabalhar a estreita travessa da Maceda, o único acesso ao local, a partir da Rua Nossa Senhora do Calvário, para que a via seja transformada numa rua condigna. “Vai haver uma intervenção a sério naquela zona da cidade”, garantiu o autarca.

No Bairro, habitado por uma centena de pessoas, a expectativa é grande. “Chove em muitas casas”, assinala Maria Rosa Barbosa, de 86 anos, uma das antigas moradoras da insalubre Ilha do Acácio, que existia ali ao lado, e que foi aqui realojada, com o marido e filhos, no pós-25 de Abril. Uma das filhas ainda mora no complexo, dando apoio à mãe, uma das milhares de operárias das empresas de fiação e têxtil que há décadas faziam de Campanhã o principal pólo industrial do Grande Porto, e das quais sobram pouco mais que ruínas e a memória de pessoas como ela, que aqui chegou há 56 anos.

Ana Maria Fonseca, moradora e membro da direcção da Associação de moradores explica que há quem pretenda fazer obras nos telhados, onde a primordial cobertura plana foi substituída, em tempos, “e com autorização” do arquitecto, por placas de fibrocimento, mas ninguém, ou a associação, consegue aceder a um empréstimo, por pequeno que seja, por causa da titularidade dos terrenos. E a degradação dos espaços comuns é grande, pedindo um nível de intervenção que, sem um apoio público, parece neste momento inalcançável. Ciente disso, Pizarro prometeu “boas notícias dentro de algumas semanas”.

O bairro sofreu muitas alterações desde o projecto inicial. As casas, que eram rebocadas, estão agora forradas a azulejos de múltiplas cores, e nos logradouros nasceram anexos ilegais e coberturas. Janelas foram substituídas por portadas e não há nenhuma coerência nos materiais usados. Aníbal Vieira, um antigo presidente da associação de Moradores, queixa-se da dificuldade de convencer os habitantes a respeitarem um conjunto de princípios comuns. Mas, na Câmara, Manuel Pizarro já alertou o presidente da assembleia-geral, António Lima, que há alguns “problemazinhos com vizinhos” para resolver, neste processo. 

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